A coluna teve acesso com exclusividade a um vídeo dos bastidores da campanha de 2018, que mostra a recusa do presidente Jair Bolsonaro em gravar ao lado do então candidato do seu partido ao governo de SC, Carlos Moisés. As imagens retratam a resistência de Bolsonaro ao caminho adotado pelo PSL catarinense na época, e ajudam a explicar como o governador carregaria por todo o mandato a pecha de traidor do presidente – um fardo que lhe custou dois processos de impeachment e frustrou sua tentativa de reeleição.

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O registro foi feito em Porto Alegre (RS), em 30 de agosto de 2018, nos bastidores de um evento com apoiadores. Moisés, Lucas Esmeraldino e Daniela Reinehr viajaram até o Rio Grande do Sul em busca de um vídeo de apoio do então candidato Jair Bolsonaro à chapa que concorria ao governo de SC. Era mais uma tentativa de convencer Bolsonaro a abraçar a candidatura do “comandante Moisés”. Até então, todas haviam batido na trave.

Visivelmente contrariado, Bolsonaro aceita gravar, mas sem manifestar apoio.

“Olha só, vamos abrir o jogo aqui. Eu me dou bem com o Amin, eu me dou bem com todo mundo. Se fecha lá no estado, eu ganho antipatia com todo um montão de gente, e o candidato sou eu”.

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Lucas Esmeraldino responde:

“Não, nós estamos subindo nas pesquisas”

Bolsonaro diz:

“Então você fala, você encaminha. (Se) eu vou apoiar você (Bolsonaro aponta para Lucas indicando que não vai falar sobre Moisés), eu não tenho dinheiro, então o que acontece, eu não quero problemas no Estado. Quando você fecha com um cara, vocês sabem, se ele não tem chance, eu ganho uma porrada de inimigos”.

A irritação de Bolsonaro diante da abordagem do PSL de Santa Catarina não era nova. Naquele momento Gustavo Bebbiano, ex-presidente nacional do partido e coordenador da campanha de Bolsonaro, já vinha tentando apaziguar os ânimos há semanas – sem sucesso. 

O impasse ocorreu porque Bolsonaro não queria que o PSL tivesse candidato ao governo em SC. As lideranças locais chegaram a se reunir algumas vezes com Gelson Merísio (então no PSD), para ensaiar uma aliança. Mas havia resistência da militância bolsonarista.

– Queriam votar 17 de cima abaixo. Seria difícil vender o discurso da nova política se não fosse assim – diz o ex-presidente do PSL em SC, Marcelo Brigadeiro.

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No dia da convenção, contrariando o “capitão”, foi apresentado e aprovado o nome de Moisés, com Daniela Reinehr como vice. A decisão do PSL catarinense de contestar as ordens e lançar candidatura própria são interpretadas, internamente, como o ponto de inflexão para a relação com Bolsonaro azedar. Foi a partir desse momento que Moisés passou a ser visto como um traidor pelo presidente – muito antes dos dois saírem vitoriosos daquela eleição. A partir daí, passou a ser ignorado por Bolsonaro.

No segundo turno, Moisés e Daniela conseguiriam um vídeo curto de apoio do presidente que, àquela altura, havia gravado pedindo votos para o senador Esperidião Amin (PP). Foi a última vez que Bolsonaro aceitou uma aproximação, que nunca mais se repetiu, nem mesmo em audiências – exceto de forma protocolar, em eventos oficiais. 

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