Duas vereadoras de esquerda de Santa Catarina estão sendo perseguidas e viraram alvo de processo de cassação depois de terem criticado e pedido providências contra a suposta “saudação nazista” registrada em protesto em São Miguel do Oeste. O vídeo gravado na semana passada, que mostra os manifestantes bolsonaristas com o braço direito estendido enquanto cantam o hino nacional, repercutiu no Brasil e no exterior e foi alvo de notas de repúdio das embaixadas da Alemanha e de Israel.
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A vereadora Maria Tereza Capra (PT), presidente do partido em São Miguel do Oeste, passou a ser atacada nas redes sociais depois de ter publicado um vídeo em que pedia que o caso fosse investigado pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC). Ela recebeu inclusive ameaças de violência física. Em grupos de Whatsapp, bolsonaristas publicaram mensagens dizendo que a vereadora deveria “sentir o coro ardido” e “tomar na cara”.
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Maria Tereza registrou Boletim de Ocorrência depois que encontrou uma mensagem ofensiva junto de seu carro, em frente à sua casa. Ela decidiu deixar a cidade por medo de represálias, mas os problemas não acabaram: um advogado da cidade protocolou um pedido de cassação contra a vereadora, dizendo que ela caluniou e difamou a população de São Miguel do Oeste.
Situação parecida viveu a vereadora Giovana Mondardo (PCdoB), de Criciúma, que foi alvo de um pedido de cassação poe “dar visibilidade negativa e ofensiva” aos manifestantes. O requerimento foi arquivado nesta semana.
Nesta quinta-feira (10), a Secretaria Nacional de Mulheres do PT emitiu nota de repúdio contra as ameaças e perseguições à vereadora Maria Tereza Capra. “Essa combinação das práticas da extrema-direita e do machismo estrutural da sociedade faz com que as mulheres, sobretudo as que ocupam espaços políticos, se tornem alvos permanentes de todo tipo de ataque à honra, à integridade física e até mesmo à própria vida e de familiares”, diz a nota.
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Imprensa também é alvo
Nesta semana, deputados da bancada do PTB e do PL cobraram no plenário da Alesc que a imprensa também seja “responsabilizada” por ter publicado sobre o caso, de repercussão internacional. “Uma raça de jornalista que não presta, uma raça que gosta de mentir. MPSC, quero ver o que vocês vão fazer com os profissionais que continuam mentindo”, afirmou um parlamentar.
O que diz a investigação
O relatório preliminar do Gaeco de São Miguel do Oeste concluiu que o gesto não foi reproduzido de forma intencional e foi uma referência religiosa. No entanto, o Ministério Público de Santa Catarina decidiu dar sequência às investigações sob os cuidados da 40ª Promotoria de Justiça da Capital, que é especializada em no combate aos crimes de racismo, de ódio, de intolerância, de preconceito e de discriminação, que tem atribuição estadual.
Ainda na semana passada, as embaixadas da Alemanha e de Israel se manifestaram sobre a situação registrada no protesto em São Miguel do Oeste. O embaixador alemão no Brasil, Heiko Thoms, disse que vê o teor do vídeo como “profundamente chocante” e que o ato “não se trata de liberdade de expressão, mas de um ataque à democracia e ao Estado de Direito no Brasil. Esse gesto desrespeita a memória das vítimas do nazismo e os horrores causados por ele”.
A Embaixada de Israel, por sua vez, pediu providências às autoridades.