A operação desta quinta-feira (8) da Polícia Federal (PF) contra militares e integrantes do núcleo duro do governo Bolsonaro, que incluiu o recolhimento do passaporte do ex-presidente, agora impedido de deixar o país, foi autorizada em um despacho de 135 páginas do ministro Alexandre de Moraes. Na decisão estão detalhadas as condutas investigadas pela PF relacionadas à “tentativa de Golpe de Estado e de Abolição violenta do Estado Democrático de Direito”.
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A decisão traz diversas reproduções de conversas entre os militares por aplicativos de mensagem em que é citada a “minuta golpista” apreendida no ano passado. O ministro descreve seis núcleos diferentes de atuação que, segundo a PF, incluem desde a disseminação de desinformação sobre o sistema eleitoral até um núcleo jurídico, que seria responsável por dar um “ar de legalidade” à intentona.
“A Polícia Federal aponta que as investigações demonstraram que o grupo investigado atuava, inclusive, por meio de ”milícias digitais”, para reverberar e amplificar: “por multicanais a ideia de que as eleições presidenciais foram fraudadas, estimulando seus seguidores a “resistirem” na frente de quarteis e instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para uma intervenção federal comandada pelas forças militares, sob o pretexto de aturarem como uma espécie de Poder Moderador”, pontua o ministro no despacho.
Moraes cita diversas vezes os acampamentos em frente a prédios militares, em todo o Brasil, e diz que, segundo as investigações da PF, havia intenção de utilizar as Forças Especiais do Exército para impedir a posse de Lula.
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“Houve, inclusive, por parte do grupo criminoso, organização de encontro específico na tentativa de arregimentar militares com curso de FORÇAS ESPECIAIS (FE), que, segundo a Polícia Federal, coadunados com os intentos golpistas, dariam suporte às medidas necessárias para tentar impedir a posse do governo eleito e restringir o exercício do Poder Judiciário (…) Tudo isso se desenrolava enquanto se avolumavam as aglomerações em áreas militares, que eram toleradas pelas autoridades castrenses e financiadas por empresários, como registrado pela autoridade policial”.
Sobre a responsabilidade do PL, que levou as investigações a recaírem sobre o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, Moraes diz que a contestação formal do resultado das eleições seria o último movimento para sustentar um golpe:
“A Polícia Federal indica, ainda, que a atuação do grupo foi intensificada após o segundo turno das eleições presidenciais, utilizando a metodologia desenvolvida pela milícia digital para reverberar por multicanais a ideia de que as eleições presidenciais foram fraudadas, estimulando seus seguidores a “resistirem” na frente de quarteis e instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para o Golpe de Estado, novamente fazendo circular estudos e investigações de conteúdo inverídico. A Polícia Federal sustenta que a representação peticionada pelo Partido Liberal junto ao Tribunal Superior Eleitoral configuraria o ato último do grupo para insurgir-se formalmente contra o resultado das eleições presidenciais, na busca por antecipar fundamento à execução de um golpe de Estado, inclusive sob a alegação de esgotamento dos meios legais de contestação do resultado, tudo a fim de reforçar o discurso de atuação ilícita do Poder Judiciário para impedir a reeleição do então Presidente JAIR MESSIAS BOLSONARO”.
Veja a decisão na íntegra
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