A falta de coordenação nacional no programa de imunização contra Covid-19 fez com que cada cidade estabelecesse o próprio modelo logístico para aplicação das doses. A intenção das prefeituras é facilitar a distribuição e disponibilizar o acesso a vacinas que ainda são escassas diante da demanda. O problema é que, em muitos casos, as regras municipais criam um novo tipo de privilégio na imunização. 

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Um dos exemplos mais evidentes é o do agendamento prévio. Em tese, faz todo sentido marcar horário para a vacina quando se tem uma legião de pessoas a imunizar contra uma doença de alta transmissibilidade, e é preciso evitar aglomerações nos postos de saúde. Na prática, entretanto, o agendamento privilegia quem tem um bom acesso à internet e uma desenvoltura mínima no meio digital.

Isso ocorre porque, diante das poucas doses disponíveis, os agendamentos online terminam muito rápido. Em alguns casos, em poucos minutos. Cidades como Joinville, Blumenau e Itajaí adotam esse modelo de seleção.

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Neste fim de semana, por exemplo, as 4,9 mil doses que foram disponibilizadas pela prefeitura de Itajaí para pessoas com 40 a 59 anos, a partir de meia-noite de sexta-feira, terminaram em apenas seis horas. Usuários relataram dificuldades com o sistema, que não tem capacidade para atender a tamanha procura simultânea. Como as vagas já tinham acabado, o agendamento por telefone – usado por quem não tem acesso ou intimidade com a internet – sequer foi ativado no sábado.

A mesma situação se repete em diversos municípios em Santa Catarina, que adotam o agendamento digital. Diante disso, há voluntários que se oferecem para tentar agendar a vacina para quem não tem condições. Mas isso não é suficiente para garantir amplo acesso à vacinação.

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Outro modelo que estabelece privilégio no acesso à vacina são os drive thrus, adotados por prefeituras como a de Florianópolis. Assim como o agendamento prévio, o drive thru evita aglomerações e reduz os riscos de contaminação. Por outro lado, prevê que o cidadão a ser vacinado tenha acesso a um carro.

Um levantamento publicado pela revista Piauí, em abril, mostrava a disparidade de acesso entre os bairros nobres e a periferia entre algumas das grandes cidades brasileiras. A reportagem mostrou que a estratégia de vacinação dificulta, ainda que involuntariamente, o acesso à vacina justamente para as populações mais vulneráveis – aquelas que vivem com condição de pobreza e miséria, em locais insalubres e onde controle da pandemia é tarefa impossível sem imunização.

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Dados do Ministério da Cidadania, de junho, apontaram que a quantidade de pessoas em situação de extrema pobreza em SC aumentou 20% em um ano. São famílias que sobrevivem com menos de R$ 3 por dia. Só nas três maiores cidades do Estado – Joinville, Blumenau e Florianópolis – são mais de 20 mil pessoas nessa condição. Diante do cenário, é necessário levar a desigualdade em conta na estratégia de vacinação. 

Não há receita pronta para garantir a imunização ao máximo possível de catarinenses, frente ao enorme desafio trazido pela pandemia. Mas diversificar os modelos de acesso à vacina e garantir que elas estejam mais próximas das pessoas, aproveitando a capilaridade que é o grande trunfo do nosso Sistema Único de Saúde (SUS), pode ser caminho para tornar a aplicação das doses mais igualitária e justa.

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