A insensibilidade do presidente Jair Bolsonaro para com as vítimas do novo coronavírus no Brasil foi desnudada, mais uma vez, com a informação de que ele se queixou de uma nota de pesar e solidariedade emitida pela chefia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) pela morte do servidor Marcos Roberto Tokumori, de 53 anos, que morreu de covid-19 em Florianópolis, em abril. O presidente, que já respondeu com “e daí?” ao aumento no número de óbitos, dá provas de que é incapaz de se sensibilizar com o luto.

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Assinada pelo diretor-geral da PRF, a nota é uma homenagem ao colega com solidariedade à sua família, além de um alerta de que a doença não escolhe suas vítimas. Mas, para um presidente que se mostra diariamente mais preocupado com seu patrimônio político do que com a vida dos brasileiros, a PRF foi longe demais ao comunicar o falecimento de um dos seus.

Marco Roberto, servidor da PRF, morreu em abril
Marco Roberto, servidor da PRF, morreu em abril (Foto: Reprodução)

Segundo o relato divulgado pela Folha de S. Paulo, a preocupação do presidente era não alarmar as pessoas. Preferia que a nota dissesse que o servidor público estava no grupo de risco para complicações causadas pelo novo coronavírus. Afinal, como explicar óbitos em um país governado por um negacionista, que estimula os brasileiros a desafiarem a morte?

Duas semanas depois de Marco Roberto sucumbir à covid-19, o país tem mais de 8 mil mortos. Em uma lista que não para de crescer.

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São filhos, pais, irmãos, amores. Reduzidos a dados na curva cruel de crescimento dos óbitos.

Em A Peste, obra do genial Albert Camus, quando uma epidemia começa a dar sinais na cidade de Orã o médico Rieux tem dificuldades para se convencer do quanto a doença é real. Mentalmente, faz as contas: três dezenas de pestes de que teve notícia, ao longo da história, fizeram cem milhões de mortos. Mas o que são cem milhões de mortos na imaginação, senão fumaça?

Lembra-se então de um caso específico, de uma epidemia que matou 10 mil pessoas num só dia. E imagina que o melhor a fazer seria juntar 10 mil pessoas em uma praça para que morressem, juntas. Ao menos, diz, se poderia colocar alguns rostos conhecidos nessa multidão anônima. Seria uma forma de convencer, a si e aos outros, que a peste havia retornado.

Os mortos pelo novo coronavírus no Brasil têm nomes e rostos. Lembram-nos, todos os dias, que a pandemia é palpável e real. Mas não mereceram do presidente do Brasil uma condolência sincera.

A compreensão da morte, da finitude da vida, é o que nos torna humanos. Quem não tem capacidade de se sensibilizar com o luto, não tem condições morais de governar um país.

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