As imagens das cruzes derrubadas por um cidadão na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (11), é uma das cenas mais tristes e simbólicas que o Brasil produziu em meio à pandemia. Chegamos ao extremo da desumanidade.

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A dor do pai que reinstalou as cruzes, dizendo ter perdido um filho jovem e saudável para o novo coronavírus, é tocante. Em que momento perdemos a capacidade de nos solidarizarmos com o sofrimento? Onde nos perdemos?

É emblemático que o episódio desta quinta-feira ocorra durante a celebração de Corpus Christi. Para os católicos, a data lembra a morte e a ressurreição de Jesus. Refere-se à última ceia, o momento em que Cristo se despediu dos apóstolos.

Num país de tradição cristã, como é o nosso, saber que a pandemia tirou a dezenas de milhares de famílias brasileiras o direito ao último adeus, deveria ser suficiente para suscitar empatia.

Ao invés disso, nos ocupamos em aprofundar as diferenças. Politizamos as providências necessárias para conter a doença, do isolamento social ao protocolo medicamentoso. Para tudo, há um lado. Em vez de criar pontes, aprofundamos os abismos.

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À morte não importam crença, ideologia política ou conta bancária. 

Cenas perversas como a desta quinta-feira são a prova de que o Brasil é um país doente de indiferença. Uma doença crônica, alimentada por uma profunda desigualdade, que em situações-limite eclode em crises agudas.

O desafio do Brasil é gigante. Para reconstruir o país após a pandemia, não bastará vencer o coronavírus.

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