A investigação da Corregedoria da Polícia Rodoviária Federal (PRF) sobre a atuação da corporação nos bloqueios das rodovias federais em Santa Catarina após a divulgação do resultado das eleições presidenciais, no ano passado, responderá, enfim, o que fez – e o que não fez – a PRF para conter as manifestações que paralisaram o Estado por quase uma semana.

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A estranha cronologia dos fatos aponta que houve, senão omissão, leniência com a paralisação das estradas, o que prejudicou milhares de catarinenses e estancou a economia. A pergunta que permanece sem resposta é: a mando de quem?

Primeiro fato: No dia 26 de outubro do ano passado, quatro dias antes do segundo turno, publiquei na coluna o resultado de uma apuração que mostrava que a superintendência local da PRF havia determinado reforço de efetivo para as horas seguintes às eleições, requisitando os policiais de folga. A medida, segundo a própria corporação, era para reforçar as equipes “em caso de protesto que prejudique o fluxo das rodovias federais”. A ordem era válida para os dias 31 de outubro e 1º de novembro, podendo ser prorrogada.

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O documento interno sinaliza que o setor de inteligência da PRF já havia identificado o risco de bloqueios. A última chamada semelhante de reforços havia ocorrido na greve dos caminhoneiros, em 2018.

Antes mesmo do segundo turno, no entanto, a ordem foi revogada pela própria superintendência local da PRF. Na época, a coluna apurou que a suspensão ocorreu por razões administrativas. A superintendência teria sido alertada, internamente, que a ordem deveria ter vindo da diretoria de gestão de pessoas, e por isso cancelou o chamado.

O reforço por meio da suspensão de folgas só seria determinado novamente uma semana depois por ordem da diretoria nacional de gestão de pessoas da PRF, em Brasília, quando os bloqueios já tomavam conta das estradas.

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Segundo fato: os bloqueios começaram ainda na noite de domingo, 30 de outubro. Na segunda-feira, a coluna trouxe os relatos de diversos vídeos recebidos, de diferentes pontos do Estado, que relatavam leniência da PRF com os manifestantes.

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A fala de um policial chamou atenção: “Em nenhum momento nós chegaremos para atritar ou para enfrentar qualquer dos senhores, que são nossos patrões nossos enquanto servidores públicos. Não se preocupem, estamos tirando foto. Nada mais que isso. Nenhum veículo será alvo de notificação. Eu não vou fazer multa nenhuma”.

Terceiro: na terça-feira, dois dias depois do início dos bloqueios, publiquei na coluna o resultado de outra apuração. A PRF não havia requisitado o grupamento de choque da corporação para dispersar os manifestantes que fechavam as estradas. Àquela altura, eram 40 pontos de interdição em Santa Catarina.

As reclamações não eram apenas dos cidadãos prejudicados pelos bloqueios. Vinham também de policiais rodoviários que denunciavam, em sigilo, a postura da corporação. Havia uma espécie de omissão silenciosa.

A maré só virou depois que manifestantes atacaram policiais em Rio do Sul e que a Justiça determinou o desbloqueio. A situação já era insustentável.

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A primeira menção da atual Corregedoria da PRF aos fatos de Santa Catarina é de abril, quando foi instaurada a investigação sobre a atuação da corporação em cinco estados. Àquela altura, o então corregedor havia sido substituído após parecer da Controladoria Geral da União. A acusação contra ele? Omitir-se quanto às suspeitas que recaíam sobre o ex-diretor nacional da PRF, Silvinei Vasques.

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