Era 2007. Pedi à minha chefe para sair mais cedo naquela tarde de sexta-feira porque era dia de homenagem às mães na escola do Gabriel. Tinham pedido para vestir roupa esportiva, o que me deu três tipos diferentes de arrepio na espinha. Explico: sou mãe de um garoto “viciado” em esportes e extremamente competitivo. Saiu ao pai. Eu sempre detestei cada minuto das aulas de Educação Física e ficava muito feliz ao ser a primeira atingida na queimada: tinha mais tempo para não ter que correr da bola.
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Bem, não preciso dizer que alguma alma iluminada teve a ideia de fazer uma gincana mães e filhos naquele ano. A proposta, convenhamos, era legal. Mas não para a disparidade de habilidade física entre meu rebento e eu. Começamos a perder as provas, uma a uma. Conforme ficávamos para trás, Gabriel emburrava. Até que meu amado filhote, tão doce e gentil, passou a me fuzilar com aqueles olhinhos amendoados. Era o fim do Dia das Mães.
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Foi quando apareceu minha chance. Anunciaram a última rodada, com pontos extras, que poderiam nos (me) salvar do vexame. As mães seriam todas vendadas e teriam que encontrar seus filhos às escuras. A primeira dupla a se localizar ganharia muitos pontos e subiria na tabela. Era agora ou nunca.
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A prova era fácil? Era. Gabriel tinha o cabelo liso, tigelinha, o nariz pequeno e arrebitado. Só que não era o único assim e eu não podia me dar ao luxo de errar.
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Foi então que tomei a decisão controversa: iria trapacear. Não tinham colocado meu filho contra mim em pleno fim de semana das mães, exigindo uma habilidade física que eu não tenho? Pois agora era justo burlar as regras. Discretamente, coloquei a venda um pouco mais para cima, de forma que eu podia ver quem estava embaixo. Quando soou o apito, rapidamente catei o Gabriel pelos cabelos, toquei no rostinho e gritei: Achei! Ponto para nós.
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Demorei muitos anos para contar ao meu filho que trapaceei na gincana. Não queria dar um mau exemplo. Fiz certo naquele fatídico dia? Óbvio que não. Me arrependi? Também não, confesso. Salvei o Dia das Mães.
Divido hoje aqui minha desonra materna para dizer às mamães que criar nossos filhos é uma gincana diária e a gente faz o que pode. Temos a responsabilidade imensa de educar e amar humaninhos que vão tomar conta do planeta no futuro – mas isso não nos garante um olhar mais complacente do mundo. Também falhamos, também choramos, também erramos. Somos as mães possíveis. A mensagem, hoje, é que estamos todas juntas. Feliz dia para nós.
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