Entre tantas imagens desoladoras que vêm do Rio Grande do Sul, na maior tragédia climática que o país enfrentou nos últimos anos, uma cena singela toca o coração. Encontrado por voluntários que entregavam quentinhas entre as casas tomadas pela água, um idoso corre para dentro para buscar o que ainda tinha a oferecer: um cacho de bananas.

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Os voluntários recusam. Ele insiste. É para a sobremesa, diz – e garante que as bananas sejam levadas. Antes de retornar para dentro do que parece ser o sótão de uma casa completamente alagada, caminhando pelo telhado com a quentinha nas mãos, ele pergunta quanto deve pela refeição. Ao ouvir dos voluntários que não custava nada, agradece feliz.

Numa rede social – o mesmo espaço inóspito onde o ser humano mostra, muitas vezes, o que tem de pior – uma jovem gaúcha lembra: este é o nosso povo.

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O Brasil andou tão dividido, tão machucado, que perdemos a noção de quem somos. A dor dos gaúchos fez o país inteiro se olhar no espelho e reencontrar o brasileiro de quem havia esquecido.

Enquanto o Rio Grande do Sul era inundado pelas águas da Bacia do Prata, o Brasil era tomado por uma onda de solidariedade. De Santa Catarina, e de tantos outros lugares em todo o país, o socorro chega de todas as formas. Pelas mãos dos socorristas. Pela doação de alimentos, de água, de dinheiro. Pelas preces.

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Desde os surfistas famosos que atravessaram o país para fazer resgates com jet skis, até as meninas de Santa Catarina que estão fazendo chaveiros à mão, com carinhas de cães e gatos, e vendendo em troca de doações. São tocantes as histórias dos voluntários que preparam refeições, que coletam donativos, que se arriscam para salvar a vida de centenas, milhares de animais que ficaram para trás.

Uma querida amiga me lembra que a solidariedade abunda onde o Estado faz falta. E ela está certa. O Brasil sairá dessa tragédia com um grande passivo a encarar, não apenas em relação às ações de Defesa Civil no momento em que as emergências acontecem, mas também sobre a crise climática e seus efeitos – muitas vezes, fatais.

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Mas é inegável que a tragédia gaúcha foi capaz de despertar no brasileiro o que nosso povo tem de melhor.

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