O ataque com explosivos nas imediações do Supremo Tribunal Federal (STF), que resultou na morte do responsável pelo atentado, o catarinense Francisco Wanderley Luiz, jogou na lama as chances de prosperar, no Congresso Nacional, a anistia para os participantes e incentivadores do 8 de Janeiro. A pauta vinha sendo usada como moeda de troca nas eleições para a Mesa Diretora da Câmara e do Senado, mas perdeu força com as explosões de quarta-feira à noite.

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O arrefecimento é admitido nos bastidores, mesmo entre parlamentares bolsonaristas que vinham articulando o projeto no Congresso. O apoio do Centrão, fundamental para levar o processo adiante, parece ter se perdido de vez.

Ataque de catarinense no STF faz “sumir” quem adotava discursos radicais

O histórico de Francisco Wanderley Luiz, exposto por familiares, é de um homem comum, que foi radicalizado pela política e capaz de cometer um ato terrorista. Brindar o golpismo do 8 de Janeiro com a impunidade é um caminho para estimular outros fanatizados a cometerem atos semelhantes – e esta é uma escolha incontornável, que o país precisará fazer.

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Pode-se discutir sobre a intensidade das condenações do 8 de Janeiro. Sobre o prazo longo dos inquéritos. Sobre a recorrente queixa de falta de informações dos advogados. Mas o que a extrema-direita tem tentado fazer é convencer o país de que a tentativa de golpe não passou de um ato de vandalismo. É revisionismo histórico.

A proposta de anistia é um cavalo de Troia, que aponta para as pessoas presas pela participação ou financiamento da invasão das sedes dos Três Poderes, mas mira em tornar Jair Bolsonaro (PL) elegível para 2026.

Nesta quinta-feira (14), diante da repercussão do atentado e do fortalecimento do movimento contrário à anistia, Bolsonaro publicou uma nota pedindo pacificação nacional. É sensato, mas nada coerente com o discurso contumaz do ex-presidente.

No Supremo, o presidente, ministro Luiz Roberto Barroso, fez uma fala contundente com um paralelo entre o 8 de Janeiro e o ataque com explosivos. Falou dos riscos de normalização do terrorismo, chamou atenção para os discursos de autoridades que estimulam os fanáticos.

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“Algumas pessoas foram da indignação à pena, procurando naturalizar o absurdo. Não veem que dão um incentivo para que o mesmo tipo de comportamento ocorra outras vezes. Querem perdoar sem antes sequer condenar”.

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