Se dependesse da bancada catarinense na Câmara dos Deputados, o resultado da votação que manteve a prisão do deputado Daniel Silveira (PSL), na sexta-feira à noite, seria outro. Por uma pequena margem de diferença – 9 votos a 7 – a maioria dos parlamentares de SC votou contra o relatório da relatora, a deputada Magna Mofatto (PL-GO), que recomendava a manutenção da prisão. O parecer teve 364 votos a favor, 130 votos contrários, e três abstenções.
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A relatora argumentou que o deputado Daniel Silveira usa o mandato como “plataforma de propagação do discurso de ódio, de ataque de minorias, de defesa dos golpes de Estado e de incitação à violência contra autoridades públicas”.
O parlamentar foi preso em flagrante por ordem do ministro do STF, Alexandre de Moraes, depois de ter gravado um vídeo em que atacava os ministros do Supremo e defendia o AI-5. A prisão foi submetida ao Congresso, como determina a Constituição.
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Entre os catarinenses, Daniel Silveira ganhou apoio em peso da bancada do PSL, que é a maior do Estado na Câmara. Os quatro deputados catarinenses do partido votaram contra o relatório.
O único partido que registrou opiniões dissidentes entre os catarinenses foi o MDB, que teve dois votos a favor do relatório – e da manutenção da prisão do deputado – e um contrário.
Veja como votaram os deputados de SC
Sim ao relatório
Carmen Zanotto (Cidadania)
Carlos Chiodini (MDB)
Celso Maldaner (MDB)
Darci de Matos (PSD)
Geovânia de Sá (PSDB)
Pedro Uczai (PT)
Ricardo Guidi (PSD)
Não ao relatório
Rogério Peninha (MDB)
Gilson Marques (Novo)
Angela Amin (PP)
Rodrigo Coelho (PSB)
Caroline de Toni (PSL)
Coronel Armando (PSL)
Daniel Freitas (PSL)
Fábio Schiochet (PSL)
Helio Costa (Republicanos)
Prisão mantida é recado aos extremistas
Pesou na manutenção da prisão do deputado Daniel Silveira o fato do Planalto não ter se mobilizado pela sua soltura. Nos bastidores, o entendimento é de que uma interferência do presidente Jair Bolsonaro poderia ter pesado na votação – e, quem sabe, teria mudado a sorte do parlamentar.
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No Legislativo, Daniel Silveira é um ‘estranho no ninho’, um parlamentar que ataca o próprio Parlamento e confronta a democracia que o elegeu. Uma presença incômoda.
Em sua fala aos colegas, logo no início da sessão, o deputado pediu desculpas e se disse arrependido pelos – digamos assim – exageros. Uma mudança de postura e tanto para um parlamentar que apostou no extremismo como estratégia de visibilidade. Não convenceu.
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Nacionalmente, ele ficou conhecido ao subir em um palanque e quebrar uma placa com o nome da vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro. Eleito, notabilizou-se pelo discurso truculento, pela antipolítica e por colecionar ilegalidades como a invasão a uma escola federal carioca.
Algumas de suas sandices tiveram eco e foram imitadas país afora. Agora, o currículo do deputado ficará marcado pela prisão da qual não foi livrado pelos colegas do parlamento – que ele defende fechar com AI-5. Um destino que serve de alerta para aqueles que tentam reproduzir seus passos.
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Daniel Silveira é a encarnação da face mais truculenta do bolsonarismo – aquela que serviu muito bem para uma eleição do ‘contra tudo isso que está aí’. É uma turma que, apoiada na imunidade parlamentar, discursa contra as instituições e ataca a deliberadamente os valores democráticos.
O episódio de sua prisão, no entanto, aponta que a maré virou. A estética pitboy parece ter virado uma pedra no sapato do presidente Jair Bolsonaro, agora ‘casado’ de papel passado com o Centrão.
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