Santa Catarina já não tem mais estoques do inseticida Malathion EW, enviado pelo Ministério da Saúde para o combate à dengue. O produto mata o mosquito aedes aedypti adulto e é usado como prevenção complementar em locais próximos àqueles onde moram ou trabalham pessoas que estão contaminadas, para controlar a proliferação da doença. Em Itapema, onde a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive) confirmou na semana passada quadro de epidemia de dengue, a última aplicação ocorreu no dia 2 de abril.
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João Fuck, diretor de Zoonoses da Dive, diz que a maior parte do inseticida que ainda há disponível no Estado está na Gerência de Saúde de Itajaí, para atender as cidades de Itapema, Porto Belo e Camboriú, onde se concentram 70% dos casos confirmados de dengue em 2019. Mas o produto está no fim, e não há data prevista para reposição.
O que diz o Ministério da Saúde
Por e-mail, o Ministério da Saúde informou que comprou, em 2016, 1,65 milhão de litros do Malathion do laboratório Bayer, por meio da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Mas que houve problemas com o produto e, por isso, em 2017 o governo suspendeu a entrega e o pagamento de 699 mil litros que faziam parte desse contrato.
Do inseticida que chegou a ser entregue, o Ministério da Saúde pediu à empresa reposição de 400 mil litros – 40% do que havia sido comprado. A empresa recolheu até agora 105 mil litros, e tem compromisso de fazer a restituição, por novos lotes, até o mês que vem.
O Ministério afirma que, quando foi feita a compra do inseticida, havia emergência em saúde pública. Mas, como o número de casos foi menor do que o esperado nos anos seguintes, a compra do inseticida também reduziu por parte do governo. “A não ocorrência de epidemias de dengue, zika e chikungunya, previstas nos anos de 2017 e 2018, culminou na baixa procura do produto pelos estados e, consequente baixa distribuição pela pasta”, informa a nota.
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Estado não pode comprar
O gerente de Zoonoses da Dive explica que, por se tratar de um produto perigoso, de uso controlado, a compra é responsabilidade exclusiva do Ministério da Saúde, seguindo as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS). O controle leva em conta, por exemplo, se o mosquito está adquirindo resistência a determinados produtos, e quais as doses e maneiras corretas de aplicação para não colocar em risco o ser humano e o meio ambiente.
– É necessário todo um cuidado. Por isso não vamos comprar e não recomendamos que os municípios comprem inseticidas – afirma Fuck.
O uso dos produtos que matam os mosquitos adultos é a última estratégia de enfrentamento, de acordo com o Ministério da Saúde. A principal maneira de prevenir a dengue, a zika e a chikungunya é a eliminação dos focos de multiplicação do aedes aegypti. Mesmo assim, Fuck diz que há impacto nas ações de combate às doenças.
– Gera um impacto, não há duvida. O inseticida é importante e em alguns momentos é necessário, mas é só uma das ações. Sempre ressaltamos que temos que eliminar criadouros.
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Poderia amenizar epidemia
Questionado se a falta do produto foi determinante para a epidemia em Itapema, a resposta do gerente da Dive foi que ele poderia ter ajudado, mas não seria suficiente.
– Quando começaram os casos, tivemos ciclos de fumacê (aplicação de inseticida). Eles têm que ser feitos a cada 3 ou 5 dias. Isso aconteceu, e mesmo assim a transmissão continuou. Não adianta aplicar o produto e ter criadouro – avalia.
A prefeitura fez, no fim de semana, um mutirão de limpeza no Bairro Meia Praia para eliminar focos do mosquito. Itapema tem 297 casos de dengue autóctones confirmados, e uma das dificuldades no combate à proliferação é a grande quantidade de imóveis de veraneio, que passam a maior parte do ano fechados.