O gesto do ministro dos Transportes, Renan Filho, de oferecer novas obras, indicadas pelo Estado, para devolução do dinheiro que Carlos Moisés investiu em rodovias federais, colocou o governador Jorginho Mello (PL) numa sinuca de bico e expôs as arestas no relacionamento do governo do Estado com o governo federal.

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Jorginho prometeu uma relação republicana com o governo Lula. Mas é pressionado pelo eleitorado mais radical a evitar excessos de aproximação. Isso explica o que já foi chamado de “ministrofobia” do governador – um termo que o governo refuta, mas que é usado para definir a prática recorrente de evitar encontros públicos com os ministros.

O fato é que a recusa à oferta de Renan Filho não pegou bem. Afinal, Santa Catarina se ressente da falta histórica de investimentos em infraestrutura. Os R$ 385 milhões a serem ressarcidos – do total de R$ 465 milhões do convênio – poderiam ser usados em obras nas rodovias federais que não constam no PAC, ou em rodovias estaduais. Nesse caso, os trechos teriam que ser federalizados.

Esta é uma questão delicada para o Governo do Estado. Nos bastidores, a leitura é que federalizar uma obra, e permitir que seja tocada pelo Ministério dos Transportes, significaria abrir espaço para o governo federal inaugurar uma empreitada a mais em SC – e numa demanda sensível.

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O governo prefere abater o recurso da dívida que tem com a União, que custa R$ 50 milhões ao mês. As tratativas estão bem adiantadas com a Secretaria do Tesouro Nacional, e há expectativa de que os descontos comecem a ser aplicados no próximo mês. É uma maneira de receber o dinheiro de volta sem “carimbo” e sem ter que ceder o palco para o governo Lula.

O problema é que o Estado precisa de mais recursos para infraestrutura. Hoje, quase 30% das rodovias estaduais estão em estado ruim ou péssimo, segundo levantamento da Fiesc. O governo Jorginho tem um programa de manutenção em andamento, com recursos reservados, que está caminhando bem. Mas, diante da oferta recusada, qualquer dificuldade mais à frente pode cair na conta do governador.

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