Nem Lula, nem Bolsonaro. O segundo turno das eleições municipais consagrou o centrão de Gilberto Kassab (PSD) como o vencedor em 2024. Homem de bastidor, ele montou uma estratégia para elevar o PSD à liderança em número de prefeituras no país – foram 887 – e também sua zona de influência.
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Neste domingo, o partido elegeu mais dois prefeitos nas capitais: Fuad Noman, reeleito em Belo Horizonte (MG), e Eduardo Pimentel em Curitiba (PR). E marcou presença na festa da vitória do emedebista Ricardo Nunes, em São Paulo – colocando sua assinatura também nas eleições da maior cidade do país.
Em Belo Horizonte e Curitiba, os candidatos do PSD deixaram para trás os favoritos de Jair Bolsonaro (PL). Em Curitiba, o ex-presidente desprezou a campanha de Pimentel, que tinha o PL como vice, e apostou em Cristina Graeml (PMB), candidata derrotada de ultradireita.
Segundo turno reflete divisão e realinhamento da direita para 2026
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O PL de Bolsonaro saiu mais robusto destas eleições. Em Santa Catarina, por exemplo, assumiu o lugar do MDB como o partido mais capilarizado do Estado. Mas não conseguiu atingir a meta nacional de Valdemar Costa Neto.
O avanço do PSD sela o crescimento do centro nestas eleições municipais – resultado de uma estratégia bastante pragmática, que admite manter um pé no governo Lula, com três ministérios, outro no governo de direita Tarcísio Freitas (Republicanos), onde atua o próprio Kassab, e flertes pontuais com o bolsonarismo raiz, como faz, por exemplo, em Santa Catarina.
O crescimento da centro-direita, e a rejeição a candidatos mais extremistas, são os grandes recados que o eleitor colocou nas urnas. O movimento confirma que o Brasil tem, sim, um eleitorado majoritariamente conservador. Mas indica que o bolsonarismo não detém mais o monopólio da direita.
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É verdade que as eleições municipais são diferentes das nacionais, e o eleitor considera outros fatores quando está de frente para a urna. Mas é inegável que o cenário para 2026 aponta para uma fratura na direita brasileira, que terá repercussões– especialmente se Bolsonaro seguir inelegível.
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Em Santa Catarina, PL e PSD já estão em lados opostos, mas buscando o mesmo eleitorado – e ensaiam uma disputa pelo governo do estado em 2026, com o bolsonarista Jorginho Mello disputando pelo PL, e o também bolsonarista João Rodrigues (PSD) pela centro-direita de Kassab. É um prenúncio para as próximas eleiçoes.
E a esquerda?
Outro recado que o eleitor deixou nas urnas, bastante eloquente, foi sobre o derretimento da esquerda. O PT conquistou neste segundo turno apenas uma capital, Fortaleza, com Evandro Leitão. Principal cabo eleitoral da esquerda, Lula prometeu estar presente, mas ausentou-se das campanhas mesmo em São Paulo, onde apostou em Guilherme Boulos (PSOL).
O presidente levou em conta, de um lado, o momento delicado que enfrenta nas relações com o Congresso, diante das articulações para a presidência da Câmara e do Senado – que são estratégicas e vitais para o governo. Preferiu não se indispor com nenhum partido. Mas é inegável que tenha considerado, também, os riscos de desgaste com as derrotas.
O PT fez algumas escolhas incompreensíveis – como a de colocar Maria do Rosário, com alto índice de rejeição no eleitorado gaúcho, para disputar com Sebastião Mello (MDB), que tinha um recall difícil após a enchente que assolou Porto Alegre entre abril e maio. O PT perdeu um pleito que era considerado “fácil”.
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Se à direita o desafio será a reorganização de forças pós eleição, para a esquerda será entender como reconectar-se ao eleitor.