Estranhou o título deste post? Agora troque “governador” por “artista”. Pois esta foi a proposta que o governador Carlos Moisés (PSL) publicou nas redes sociais para artistas catarinenses interessados em se apresentarem – de graça – na solenidade de abertura da Ponte Hercílio Luz. A icônica ponte de Florianópolis, cuja reforma custou mais de R$ 300 milhões aos cofres públicos.

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O convite causou polêmica e deve ser assunto da próxima reunião do Conselho Estadual de Cultura (CEC), na terça-feira. Como o conselho é paritário, tem artistas e membros do governo, se confirmado na pauta, a discussão promete pegar fogo.

Twitter Carlos Moisés
Twitter Carlos Moisés (Foto: Reprodução)

Parte dos representantes da classe artística, com razão, acusa o governo de desmerecer um setor da economia que representa 2,64% do PIB do país – estimativa do governo federal em 2018 – e movimenta um milhão de empregos. É semelhante, no PIB, à fatia da indústria extrativa, que inclui a pesca e a exportação de madeira, por exemplo. Não é pouca coisa.

É compreensível que o Governo do Estado queira, e precise, economizar recursos. Mas o recado foi recebido por muitos artistas catarinenses como um desapreço pelos trabalhadores da cultura. Ouvi de Dagma Castro, de Balneário Camboriú, que é representante do Cinema no Conselho Estadual de Cultura, que o talento e a inspiração de um artista não são diferentes dos de um médico. Pois então. Artistas também vivem de sua força de trabalho.

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Namoro

A postagem polêmica vem em um momento em que a cultura e o Governo do Estado ensaiavam um namoro. Contrariando a política federal, que trouxe duros golpes ao setor, o governo Moisés avançou em algumas pautas que são caras à arte. A Fundação Catarinense de Cultura lançou o Prêmio Catarinense de Cinema com recurso de R$ 19 milhões, valor considerado histórico, como me lembrou Dagma. Reeditou o esperado prêmio Elisabete Anderle e trabalha para uma Lei Rouanet catarinense, que ajudará a financiar a cultura no Estado.

Esses avanços fazem outro conselheiro estadual, Qiah Salla, presidente da Federação Catarinense de Teatro, entender que a postagem foi um “descuido”, que destoa do tom do tratamento que o governo tem dado à arte.

O fato é que, ao buscar apresentações voluntárias enquanto ainda mantém alguns gastos questionáveis – como bancar residência oficial para a vice-governadora, algo que quase todos os outros estados aboliram faz tempo – o governo suscitou uma polêmica desnecessária em um campo em que seu time vem jogando bem.

A “falta” interrompeu temporariamente a partida. Vai caber ao governo ter jogo de cintura para reverter o jogo.

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