Foram nove meses de investigação para que o uso político da Polícia Rodoviária Federal levasse Silvinei Vasques à prisão. No pedido feito pela PF para prendê-lo, consta que o ex-diretor geral da PRF vinha tentando combinar depoimentos e interferir nas apurações. É razão grave o suficiente para justificar a prisão preventiva, de acordo com a lei.

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Quem é Silvinei Vasques, ex-chefe da PRF de SC

A reação de Silvinei Vasques ao ser preso pela PF

Vasques tentou transformar a PRF em “Polícia de Governo”, um “braço armado” do bolsonarismo. O termo consta na representação contra ele que foi entregue pela PF ao ministro Alexandre de Moraes.

O roteiro é conhecido. No dia das eleições, 30 de outubro, Vasques contrariou determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Pôs na rua uma série de operações de fiscalização na região Nordeste, onde Lula (PT) tinha maioria das intenções de voto. Ameaçado de prisão por Alexandre de Moraes, recuou.

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Quem são os alvos de SC na operação que prendeu Silvinei Vasques

A apuração da PF aponta que as operações seguiram um mapa que mostrava os locais onde Lula teve mais que 75% de votos no primeiro turno no Nordeste. Seria uma clara tentativa de prejudicar o acesso de eleitores aos locais de votação, com o objetivo de favorecer o presidente Jair Bolsonaro na disputa pela reeleição. Das duas, uma: ou haveria menos votos para Lula ou o pleito teria o tempo de votação estendido pelo TSE, o que abriria espaço para Bolsonaro contestar as eleições.

O enredo golpista só não funcionou porque Alexandre de Moraes agiu a tempo. Mandou desobstruir as estradas e negou o pedido do próprio PT para estender o horário de votação.

Ex-diretor da PRF, Silvinei Vasques é preso em Florianópolis

Sem sucesso, a PRF de Vasques protagonizou o segundo ato ao fazer corpo-mole no desbloqueio das rodovias federais pós-eleições. Imagens de policiais confraternizando com manifestantes circulavam pelo país, enquanto a corporação dizia que não poderia agir sem ordem da Justiça. Uma inverdade.

Em Santa Catarina, o epicentro dos bloqueios, a superintendência local chegou a pedir reforço antecipadamente diante de relatórios de inteligência que apontavam risco de bloqueios. Mas a medida foi suspensa pela direção geral, que alegou irregularidade burocrática. O reforço só seria liberado dias depois, quando os bloqueios já eram insustentáveis e a reputação da PRF de Silvinei Vasques havia ido pelo ralo.

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Preso pela PF, Silvinei Vasques ensaiava candidatura a prefeito em Santa Catarina

Aposentado da PRF e investigado pelo Supremo, Vasques continuava a ter voz ativa na corporação. Circulava cada vez mais por eventos políticos e da própria PRF em Santa Catarina. Num encontro recente com antigos colegas da Polícia Rodoviária, em Florianópolis, não escondeu a intenção de concorrer a prefeito de São José pelo PL nas eleições do ano que vem. E foi além: disse que, se eleito, disputaria em 2026 uma vaga de deputado federal.

Vasques tem pretensões políticas porque acredita que ficará impune, apesar da gravidade das denúncias que recaem sobre ele. O aparelhamento e o uso político de uma instituição de Estado são gravíssimos ataques à democracia e ao país. A prisão preventiva é um recado da Justiça de que o golpismo não será tolerado.