A prisão do prefeito Clésio Salvaro (PSD), na segunda fase da Operação Caronte, provocou um terremoto político em Santa Catarina. Em Criciúma, virou inevitável assunto em uma campanha disputada voto a voto – e levou o candidato de Salvaro, Vaguinho Espíndola (PSD), a usar boa parte da propaganda eleitoral para defender o aliado.
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As consequências ainda são incertas. Por um lado, a prisão enfraquece Vaguinho, que tinha Salvaro e a aprovação do prefeito em Criciúma como seu principal capital eleitoral. Por outro, há uma leitura de que a vitimização de Salvaro pode beneficiar a candidatura do PSD.
O principal responsável por colocar fogo no parquinho foi o próprio prefeito, que conseguiu driblar os policiais e gravar um vídeo quando já tinha recebido ordem de prisão, falando ser vítima de ação política. A manobra, arriscada, obrigou o governador Jorginho Mello (PL) a se manifestar em um assunto que, a priori, não é de governo.
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A repercussão da fala de Salvaro na imprensa irritou o governador. Jorginho reclamou a aliados que o prefeito de Criciúma fez ilações, acusações sem prova, que atingiram não só o governo mas também o Ministério Público e o Judiciário – e não foi instado a comprovar o que disse.
As suspeitas de corrupção no setor funerário são graves, especialmente porque se trata de um momento de grande vulnerabilidade emocional para as famílias. Mas prisões em período eleitoral são um remédio usado com parcimônia pela Justiça, pelas repercussões que podem levar às urnas.
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Em nome da transparência, o Tribunal de Justiça fez bem em ter retirado o sigilo da decisão que determinou a prisão do prefeito – assim como fez o Ministério Público, em ter disponibilizado acesso à denúncia.
O fato é que, como a coluna relatou ao longo da semana, a operação causou mal-estar no Tribunal de Justiça. Não apenas pelo período de campanha, mas principalmente pelo convite do governador Jorginho Mello (PL) à desembargadora Cinthia Schaefer, para assumir a Secretaria de Administração Prisional, e por uma declaração dela, dias antes, indicando que estava inclinada a aceitar.
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Ordem de prisão de Salvaro causa “climão” entre desembargadores no Tribunal de Justiça
Na avaliação de interlocutores ouvidos pela coluna, o Judiciário ficou em uma saia-justa. A leitura é de que o Tribunal foi exposto desnecessariamente.
O resultado do estremecimento veio com o pedido de vista do desembargador Antônio Zoldan da Veiga, na quinta-feira, na 5ª Câmara Criminal do TJSC – o que adiou a análise da prisão de Salvaro para a próxima semana. Até então, as dezenas de prisões de prefeitos em SC tinham passado todas incólumes pela reanálise no Tribunal.