Presidente da Unimed Litoral, que administra o maior hospital privado da região da Foz do Itajaí-Açu, em Balneário Camboriú, o médico Umberto João D´Ávila alerta para o agravamento da pandemia em Santa Catarina. Em entrevista à coluna, ele defende mais restrições para os idosos, para tentar frear a ocupação de leitos de UTI, e fala de uma postura mais rígida do Estado para aumentar a adesão às regras de isolamento social. O médico também alerta para as projeções, que indicam 1,5 mil óbitos em SC nos próximos 60 dias.
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ENTREVISTA: Umberto João D´Ávila, presidente da Unimed Litoral
Qual a situação atual do Hospital da Unimed em Balneário Camboriú?
A situação está de mantendo acima de 85% de lotação faz 15 dias. Várias vezes oscilou, entre 80% e 100%. Tivemos dois dias em que se chegou à lotação máxima, e depois algumas altas acontecem, pacientes que tiveram óbito, acaba variando.
O volume de ocupação de leitos é preocupante? Estamos no limite?
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No limite de atendimento, sim. Se aumentarem os casos agora, nos próximos dias, vamos ter que transferir paciente para outras regiões. O problema é que Joinville bombou, Blumenau bombou, está fechando tudo, as UTIs de Brusque também estão cheias. Então, no Estado, não tem. E o Paraná também está assim. Vai para onde, São Paulo? Ok, mas olha o transtorno de transferir um paciente para São Paulo. No Marieta foram abertas vagas, mas estamos vendo que está enchendo também. O Ruth Cardoso está cheio. Nós estamos vivendo o pior momento da epidemia. Só que morreram 600 pessoas no Estado até agora, enquanto em São Paulo já morreram 20 mil. Proporcionalmente, e é claro que a gente não quer isso, mas em termos matemáticos morreriam cerca de 3 mil pessoas aqui (em SC). Temos uma qualidade de distanciamento melhor que a de São Paulo, então pode diminuir. Mas que sejam, em vez de 3 mil, que é o cálculo matemático, 2 mil, que já é um número muito grande.
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Essa é a projeção que se tem hoje?
Pensando no Estado, sim. É (previsto) que morram 1500 pessoas nos próximos 60 dias, se não houver uma restrição importante e um declínio da curva. Se esse platô, como está hoje, durar mais 15 dias, vamos passar de mil mortes rápido.
O senhor falou em restrição importante. Que medidas o senhor vê como necessárias para desafogar os hospitais?
A economia está tocando. Santa Catarina parou, o mundo sofreu, seria impossível Santa Catarina não ter sofrido. Mas foi bem menos que o Rio de Janeiro, que o Nordeste, que muitas regiões. (O movimento de) restaurantes, lojas, consultórios médicos, shoppings, diminuiu, mas as coisas estão rodando. A economia está sentindo, mas pior é a economia ficar mais parada por todo o transtorno das mortes que podem acontecer. Minha proposta de restrições se divide em três. O mais importante são os idosos. Idosos não estão tendo restrições em nossa área, de Itajaí e Balneário Camboriú. Blumenau fez restrições, Joinville também. Balneário e Itajaí não fizeram restrições para os idosos. Só no caso dos que trabalham, e que as empresas têm que liberar, (os que estão) com mais 60 anos. No supermercado tem horário (específico), mas você vai ao supermercado e tem idosos o tempo todo. Os idosos têm que ficar mais em casa, não podem ficar na rua, em contato, em praças, jogando dominó, ou em restaurantes. Mantém a economia aberta? Algumas coisas sim, mas com o distanciamento previsto. O terceiro, que é o mais importante, é um posicionamento do Governo do Estado, porque não adianta Itajaí falar uma coisa, Balneário outra. Cada cidade tem uma diferença econômica, vai ter um discurso diferente. Quando é temporada, o pessoal de Balneário não está preocupado se em Lages os restaurantes estão fechados. Na temporada, Chapecó, Lages, estão vazios, vem todo mundo para cá (Litoral). Agora é o momento de a gente também comer a carne de pescoço. Valorizo as coisas daqui, mas não estamos pedindo um lockdown de 60 dias. Estamos pedindo restrições de idosos em restaurantes, de idosos jogando dominó, não ter festas. Restaurantes podem continuar abertos, mas com mesas separadas, distanciamento das pessoas, para continuar a economia. Essa é a proposta.
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Sobre a abertura de leitos, fala-se em dificuldade de obter mão de obra. Este é o cenário?
Botaram todo o peso no respirador, e foi aquela questão política de compra, volta, não deu certo. Segundo é a mão de obra, é finito, não 200 técnicos de enfermagem em casa esperando. Todos estão trabalhando, e estão ficando doentes. Estamos com 97 funcionários de atestado por doença. Volta um, vão mais dois. Tem subido o número. Imagina isso no setor público, os funcionários estão cansados, esgotados, está bem difícil trabalhar. Outra coisa, está faltando medicamento de intubação. Felizmente a gente, como é empresa privada e tem condições financeiras de comprar, faz estoque de 15 dias. Mas e quando acabarem os estoques? Estamos tentando, pagando 4 ou 5 vezes mais o valor de compra. Inclusive fui ao Ministério Público e já deixei lá as notas fiscais de tudo o que a gente comprou durante a pandemia para o MP ver a evolução dos preços nesse período. Se existe abuso ou não, é uma decisão do MP. Então, são três coisas: mão de obra, insumos e equipamentos. Fala-se – vamos aumentar 50 leitos na região. Seria ótimo, mas e funcionários para isso?
O que faltou para que as pessoas atentem para a seriedade dessa situação?
Faltou liderança política, dos responsáveis pela governança do Estado. Uma coisa é um médico falar, (podem dizer que) está falando porque não quer que o hospital encha. Outra coisa é o governador do Estado, que tem que se posicionar em cima disso. Colocar em forma de lei que idosos não saem de casa, a não ser que tenham horário marcado com o médico, ou se estiverem passando mal. Alguma determinação, como foi na Europa. Festas, quem fez vai ser preso. Ou alguma punição. Faltou decisão por liderança estadual, porque cobrar dos municípios fica muito complicado, os municípios são diferentes. Tem município que não tem nem hospital, o prefeito lava as mãos. Entendo que as regras e determinações têm que ser estaduais, que têm um peso maior.
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Ouve-se muito comparação com a H1N1. É possível comparar a pressão sobre o sistema de saúde?
Não tem comparação. Essa virosa tem uma capacidade de infecção muito maior. E a H1N1 tinha uma mortalidade bem menor. Morreram pessoas de H1N1, mas não chegou a encher as UTIs aqui na região em nenhum momento. Em nenhum momento foram ampliados, na H1N1, leitos de UTI por causa da quantidade de problemas respiratórios. E esta, se eu abrir agora 50 leitos, tem grande chance de ter ocupação nos próximos 60 dias.
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