Rafael Nogueira, o presidente da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), envolveu-se em uma nova polêmica ao defender o porte de armas em uma entrevista a uma rádio no interior do Estado. Afirmou, entre outros disparates, que “armas e livros sempre estiveram juntos”. Falta uma diferenciação óbvia: livros educam, enquanto armas matam.

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Sua “tese” recorre a figuras ilustres da Literatura, como o português Luís de Camões, que foi militar, e o espanhol Miguel de Cervantes, que se envolveu em duelos, para defender que violência e erudição podem caminhar lado a lado. Um detalhe que presidente da FCC omite é que ambos viveram no século 16. Eram, portanto, homens de seu tempo.

A comparação descabida, como o próprio Nogueira admite na entrevista, busca rechaçar as críticas aos armamentistas que vêm dos setores progressistas:

– E a esquerda vai dizer ‘nós somos dos livros e eles são das armas. Isso é a maior bobagem que eu já vi’ – disse o presidente da FCC.

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Embora seja mais conhecido pela pecha de “monarquista e olavista”, e pelas polêmicas em que se envolve, como comparar Olavo de Carvalho a Sócrates, o currículo de Rafael Nogueira indica que ele é um homem das letras. Formou-se em Direito e Filosofia, e dirigiu a Biblioteca Nacional no governo Bolsonaro. Talvez por isso, no fundo o incomode a conclusão óbvia de que, no século 21, as armas defendidas pela extrema direita e os livros que ele parece cultuar não dividem as mesmas prateleiras.

O presidente da FCC diz que não é um CAC (caçador, atirador desportivo ou colecionador). Mas usa o conceito de “proteção individual” para explicar por que é favorável às armas. Nogueira diz que foi assaltado sete vezes, e por isso acha justo que um cidadão queira andar armado. Talvez não lembre que o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro também foi vítima de assalto. E que levaram dele – veja só – a arma.

A ideia de que cada indivíduo possa carregar um instrumento de vida ou morte para a própria proteção é uma ode à barbárie. Não poderia estar mais distante da ideia de uma sociedade civilizada, letrada.

O pensamento, em si, é retrógrado. Pior ainda que venha de quem é responsável pelas políticas culturais no Estado.

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