A Secretaria de Saúde de Itajaí publicou uma errata para corrigir informações que foram identificadas como falsas pelo Ministério Público no relatório sobre o uso da cânfora, um medicamento homeopático que foi distribuído na cidade como ‘medida preventiva’ contra a Covid-19. Na correção, a prefeitura diz que o uso da cânfora não reduziu o número de mortes por Covid-19, e nem diminuiu dos sintomas da doença – ao contrário do que havia divulgado.
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A errata, publicada no site da prefeitura de Itajaí, afirma que “O percentual divulgado de 43,9% menor de óbitos entre os que tomaram Camphora 1M FC em comparação com os pacientes que não tomaram não corresponde com a realidade”, e que “não há qualquer evidência científica de diminuição do número de óbitos entre os que fizeram uso da Camphora e os que não fizeram”.
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Registra, ainda, que “a amostra reduzida de dados obtida pela pesquisa realizada não permite a conclusão científica que as pessoas que tomaram Camphora 1M FC, apresentaram 21,8% menos sintomas do que aquelas que não a tomaram”.
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A retratação foi recomendada pela 9ª Promotoria de Justiça de Itajaí, que atua na área da moralidade administrativa. Na administração pública, a recomendação é como um ‘aviso’ para corrigir uma irregularidade. O MP deu prazo de 10 dias para publicação da errata, sob risco do prefeito reeleito Volnei Morastoni (MDB) começar o próximo mandato com um processo por improbidade administrativa.
No texto da recomendação, o Ministério Público diz que técnicos analisaram os dados divulgados pela prefeitura de Itajaí, e concluíram que “não há qualquer evidência de diminuição do número de óbitos entre os que fizeram uso da cânfora”. As proporção de mortes entre pessoas que usaram e não usaram o remédio, de acordo com o MP, é raticamente idêntica – um índice de 0,02 mortes para cada 100 mil habitantes.
O promotor afirma, no texto, que “as informações divulgadas pelo município são enganosas e não científicas, gerando na população uma falsa sensação de segurança, dificultando o cumprimento das orientações da Organização Mundial de Saúde, aumentando o número de casos e a propagação da doença”.
Questionário
O relatório sobre o uso da cânfora foi embasado em um questionário aplicado à população por uma empresa contratada pela própria prefeitura. A ideia era justificar o investimento na medida, que recebeu críticas da comunidade científica.
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O resultado saiu em julho, e foi divulgado com alarde. O prefeito Volnei Morastoni, que é médico homeopata e adepto desse tipo de tratamento, chegou a publicar nas redes sociais que o levantamento comprovou a cânfora como “medida efetiva” para aumentar a imunidade da população.
O relatório, no entanto, desapareceu do site oficial da prefeitura durante o período eleitoral e não voltou a ser publicado. A errata, divulgada na última sexta-feira (27), recebeu um tratamento bem mais discreto nas redes sociais oficiais e exige que o internauta abra o link disponibilizado para entender que o município fez uma propaganda equivocada do tratamento.
Dinheiro público
A distribuição de cânfora teve custo para o município. A prefeitura de Itajaí gastou, pelo menos, R$ 150 mil para disponibilizar as doses nos postos de saúde. O valor está no Portal da Transparência e corresponde a duas compras, de dois laboratórios diferentes, feitas com recursos do Fundo Municipal de Saúde e com dispensa de licitação.
Esse modelo de distribuição foi o plano B – a ideia original era que os agentes de saúde passassem de casa em casa oferecendo cânfora aos moradores. A proposta foi barrada pelo Ministério Público, porque exporia os agentes a virarem focos de propagação do novo coronavírus na cidade.
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Vale lembrar que a cânfora não foi o único investimento de Itajaí em medicações para prevenção e tratamento da Covid-19 que não têm respaldo ou comprovação cientifica. A prefeitura gastou mais de R$ 4 milhões para comprar ivermectina, um vermífugo que foi distribuído à população de forma ‘preventiva’.
Os números da pandemia apontam para a ineficácia da ‘prevenção’. Itajaí teve 196 mortes por Covid-19 até segunda-feira (30), o terceiro maior índice do Estado. No topo da lista estão Joinville, com 391 mortes para 600 mil habitantes, e Florianópolis, com 236 óbitos para 508 mil moradores. Itajai tem 223 mil habitantes, menos da metade da Capital e praticamente um terço de Joinville, que é a maior cidade do Estado.
Nesta segunda-feira, a Secretaria de Saúde de Itajaí divulgou um vídeo de alerta nas redes sociais, avisando sobre o aumento no número de casos. Em novembro, o Centro de Triagem de Coronavírus registrou aumento de 125% no número de pessoas atendidas na cidade – foram mais de 9,6 mil atendimentos entre 1º e 26 de novembro. No comunicado, a prefeitura avisa que “os protocolos de prevenção”, que incluem a cânfora e a ivermectina, continuam à disposição.
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