Passageiros nos três maiores aeroportos de Santa Catarina enfrentaram voos cancelados ou atrasados na manhã desta segunda-feira (9). O nevoeiro marítimo, que encobre o Litoral, afetou os terminais de Florianópolis, Navegantes e Joinville.
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Voos cancelados ou atrasados por condições climáticas não são uma situação exclusiva dos aeroportos de SC. Mas chama atenção que outros lugares no mundo operem em condições, aparentemente, bem mais complicadas. É o caso do Aeroporto de Heathrow, que atende Londres, a capital do Reino Unido – famosa pela neblina constante.
O engenheiro aeronáutico Rafael Cuenca, coordenador do curso de Engenharia Aeroespacial da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), conversou com a coluna e explicou por que os aviões não conseguem pousar ou decolar em SC quando há nevoeiro. Confira, em tópicos, a explicação.
De olho na pista
Aeronaves maiores, como as que são usadas pela aviação comercial no Brasil, operam usando os equipamentos a bordo, as informações do sistema de pouso do aeroporto, e a visão que o piloto tem da pista. Quando não tem visibilidade, o piloto não consegue medir visualmente a distância da pista e ter ideia da inclinação que precisa alcançar em cada momento da descida. Os aviões grandes descem em um ângulo de 3° a 7° em relação ao solo.
Operando por instrumentos
Os aparelhos podem ajudar o piloto a saber se ele está descendo no ponto correto, indicando a velocidade do avião e a chamada velocidade vertical – a velocidade de descida. Mas só equipamentos muito sofisticados são capazes de fazer essa operação inteiramente, sem que o piloto precise visualizar a cabeceira da pista. Descer longe da cabeceira é um risco inaceitável na aviação: pode fazer com que a aeronave tenha pouco espaço de pista para desacelerar.
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Precisão é o segredo
Dos três principais aeroportos de Santa Catarina, dois possuem ILS – um sistema que permite pousar por aparelhos com precisão. Florianópolis e Joinville têm uma versão desse sistema, que se divide em três categorias, cada uma delas com duas a quatro subcategorias. Quanto mais avançado o ILS, maior a margem de segurança para pousos sem visibilidade da pista.
Os aeroportos mais modernos do mundo permitem que o piloto pouse sem enxergar a pista em momento algum, e só recobre o controle da aeronave quando ela já está em terra. O Aeroporto de Navegantes, que tem a segunda maior movimentação de passageiros do Estado, ainda não possui ILS – a melhoria dos equipamentos deve ficar como responsabilidade da empresa que assumir o terminal com a privatização.
Com chuva pode
Uma dúvida constante entre os passageiros é por que os aeroportos fecham com nevoeiro, mas dificilmente fecham com chuva. E a resposta está na visibilidade da cabeceira da pista. Exceto em casos de chuva muito forte, o piloto consegue enxergar as luzes indicativas a uma distância razoável e o pouso é seguro.
É mais comum o aeroporto fechar em dias chuvosos se faltar rugosidade na pista – o que ocorreu no passado em Joinville, por exemplo. Nesse caso, o aeroporto impede os pousos porque o avião pode não conseguir frear como deveria.
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Custa caro
A tecnologia para reduzir os fechamentos dos aeroportos por condições climáticas existe, mas custa (muito) caro. Alguns milhões de dólares, segundo o professor Rafael Cuenca. Quanto mais avançado o equipamento, mais alto o preço. Por isso, o investimento depende de fatores como a demanda de aeronaves de grande porte no aeroporto, para que haja retorno financeiro. Hoje, no Brasil, o terminal com equipamentos mais modernos é o de Guarulhos (SP) – o mais movimentado do país.