A pobreza que ronda as lixeiras dos arranha-céus em Balneário Camboriú em busca de lixo reciclável integra uma série de reportagens nacionais do portal Uol sobre a miséria brasileira, publicada neste domingo (26). Nas redes sociais, muita gente achou o retrato injusto com a cidade e com SC. Será mesmo?

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Em agosto, reportagens produzidas pela NSC mostraram a realidade das famílias que passam fome no Estado (a foto que ilustra esse post é de uma delas). Um número estarrecedor. São 355 mil pessoas em situação de extrema pobreza, quase o equivalente a toda a população de Blumenau. Eis o tamanho da nossa tragédia, que foi potencializada pela pandemia.

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O fato é que enxergar nossas próprias mazelas incomoda um bocado. Especialmente se esse olhar vier de fora para dentro. Bairristas que somos, gostamos que mostrem nossas festas, a pujança da nossa economia, nossa resiliência. Fome, miséria? Não é bem assim.

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Anos atrás, passei semanas produzindo uma reportagem para o Santa sobre os contrastes entre cidades do Litoral catarinense que estão na lista dos imóveis mais caros do Brasil: Balneário Camboriú, Itajaí e Itapema. Algumas das histórias que ouvi naquela apuração eu jamais esqueci. Como a dos filhos de Edmilson, crianças que moraram a vida toda em Itapema mas viram poucas vezes o mar. O pai, catador, não queria que vissem na praia brinquedos e comida que ele não podia dar. Enquanto pudesse, manteria as crianças encasteladas na própria miséria para poupá-las de mais sofrimento.

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A imagem da pobreza choca porque não há explicação lógica para a injustiça social. Não há como racionalizar a exaltação dos excessos quando o oásis de arranha-céus e carrões está cercado de desigualdade. Essa é, afinal, a sina de qualquer lugar que pretenda carregar o selo “luxo e ostentação” num país como o Brasil.

Pode-se mascarar a pobreza proibindo que ela peça esmolas nas sinaleiras, como tentaram fazer em Balneário Camboriú anos atrás por força de lei. Pode-se esconder a miséria estipulando horário para os catadores de recicláveis revirarem o lixo dos condomínios. Podem-se estabelecer políticas públicas de assistência que tirem a pobreza da paisagem. Mas ela estará sempre lá.

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A exposição da miséria nos incomoda porque preferíamos fingir que ela não existe. Porque gostaríamos de acreditar, com uma imensa pretensão, que SC é um arremedo de “Europa”, o oásis econômico, o paraíso na terra. Ocorre que somos mais um pedaço do Brasil, um país incrível e cheio de potencialidades, mas que ostenta um dos piores índices de distribuição de renda do planeta.

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A pobreza choca porque sentimos culpa, remorso, vergonha. Por isso vamos dizer que é exagero, tomar mais um gole da caipirinha e virar a página, que hoje é domingo.

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