A alternativa de abrir um canal na Lagoa dos Patos para acelerar o escoamento das águas que inundam o Litoral do Rio Grande do Sul em direção ao mar, avaliada por especialistas, pode impactar uma das pescas mais tradicionais do Sul do país: a tainha.
Continua depois da publicidade
Entre na comunidade exclusiva de colunistas do NSC Total
A Lagoa dos Patos é o criadouro das tainhas que migram em direção ao Norte em período reprodutivo, quando são capturadas, especialmente no Litoral de Santa Catarina. A safra da tainha é diferente de outros pescados, uma vez que elas são capturadas “ovadas”, ou seja, gestando os filhotes. Mudanças na dinâmica da lagoa podem interromper o ciclo de vida da espécie.
O Instituto de Biociências (IBIO) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) publicou uma nota em que critica a proposta de abertura do canal, por considerar que a medida terá grande impacto ao meio ambiente e ao uso humano, e não há garantias de que será efetiva para escoar as águas.
“Outro canal não garante o escoamento, pois este depende do nível das marés, condições climáticas e regime de ventos, como já ocorre no canal de Rio Grande”, aponta a nota.
Continua depois da publicidade
SC também precisará discutir mudar cidades de lugar para proteger as pessoas do clima extremo
“Na prática não se trata de abrir um canal de escoamento. Trata-se de fazer uma nova ligação entre a
laguna dos Patos e o mar, que poderá proporcionar tanto a saída de água doce quanto a entrada de água salgada mudando todo o ciclo da laguna, trazendo prejuízos ao ambiente e ao próprio uso humano, como na pesca, agricultura e navegação”, completa.
Além da tainha, o IBIO cita outras espécies importantes para a alimentação humana que serão impactadas pela intervenção humana na Lagoa dos Patos:
“Toda a produtividade pesqueira de camarões, tainhas, bagres, e outras espécies dependem do ciclo natural de entrada de água do mar que regula a salinização na porção sul da laguna e da livre passagem pelo canal de Rio Grande”.
A nota afirma, ainda, que mesmo em momentos de urgência qualquer interferência precisa considerar os riscos envolvidos:
Continua depois da publicidade
“É preciso destacar ainda que em uma situação emergência é preciso ter cuidado, pois não há soluções
fáceis e rápidas. Qualquer intervenção necessita de estudos profundos e detalhados, pois pode acarretar em riscos sérios para o meio ambiente e às populações humanas de toda região envolvida”.