Autonomia foi a palavra-chave para a atuação da Polícia Federal nos últimos anos no Brasil. E é esse o principal pilar que policiais e delegados veem ameaçado com a saída de Maurício Valeixo da direção da corporação, formalizado na manhã desta sexta-feira (24). É a terceira troca de comando em três anos, uma nova ruptura na organização e um sinal de que as tentativas de aparelhamento persistem.
Continua depois da publicidade
A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) e a Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (Fenadepol) registraram que o problema não está no nome que ocupará o cargo. Mas a “falta de previsibilidade na gestão” e a “institucionalidade das trocas de comando”.
A autonomia foi o que deu à corporação liberdade para as grandes investigações que envolveram crimes de corrupção no Brasil. E que, em última instância, levaram à prisão um ex-presidente da República. Uma operação como a Lava Jato, que projetou o juiz Sergio Moro ao posto de ministro, não é possível em uma polícia aparelhada politicamente.
Foi essa autonomia de trabalho que deu à Polícia Federal o primeiro lugar numa pesquisa conduzida pelo Instituto da Democracia, divulgada em janeiro deste ano, entre as instituições mais confiáveis para os brasileiros. Uma confiança que veio da liberdade de atuação.
Nos bastidores, uma possível saída de Moro do Ministério da Justiça tampouco é bem vista dentro da Polícia Federal. As informações de que Valeixo teria pedido exoneração, e de que Moro manifestado desejo de deixar o governo se isso se concretizasse, são vistas como contraditórias.
Continua depois da publicidade
A “cereja do bolo” é o momento escolhido para a troca de comando. Em meio a uma crise sanitária e ao pior desafio de saúde e econômico da história recente do Brasil, estamos, mais uma vez, acompanhando crises periféricas e fora de hora.
A dúvida que paira, nessas horas, é se assistimos a um movimento oportunista do governo, talvez desgostoso do rumo de investigações da PF, ou se estamos sob uma nova cortina de fumaça. Lá atrás está a pandemia. E as mais de 3,3 mil mortes já registradas no Brasil.
Participe do meu canal do Telegram e receba tudo o que sai aqui no blog. É só procurar por Dagmara Spautz – NSC Total ou acessar o link: https://t.me/dagmaraspautz