A pesquisa divulgada nesta segunda-feira (23) pelo Datafolha retrata, em números, o que as panelas têm ressoado nos últimos dias: o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro em relação à pandemia de coronavírus está na contramão do que espera pelo menos um terço dos brasileiros. Para 33% das pessoas ouvidas, Bolsonaro conduz mal a pior crise das últimas décadas.
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Não é pouca coisa. Especialmente se um recorte nos números destacar as pessoas que têm curso superior ou os mais ricos, com renda acima de 10 salários mínimos. Entre esses dois grupos, a desaprovação de Bolsonaro sobe para 42% e 51%, respectivamente.
São os grupos que, historicamente, estiveram entre as estruturas de apoio ao presidente. Mas, neste momento, a opinião reflete as consequências econômicas do coronavírus e do modelo de gestão de crise adotado pelo Planalto. O que demonstra que, ao fazer pouco caso da pandemia, e oscilar no discurso entre aprovação e desaprovação às medidas de contenção tomadas pelo próprio Ministério da Saúde, o presidente mina a confiança de sua própria base eleitoral.
O desdém de Bolsonaro pela pandemia, ao afirmar que há “histeria” em relação ao coronavírus, é reprovado por mais da metade dos brasileiros, segundo a pesquisa. E 68% dos entrevistados consideram que ele agiu mal ao dar as mãos a apoiadores durante manifestações no dia 15 de março. Entre os mais ricos, o índice salta para 88%.
Por outro lado, os governadores, que têm tomado a dianteira da crise, têm a gestão aprovada por 54% dos brasileiros. Na região Sul, o percentual é o mais alto do pais: 61% de aprovação, ainda que 42% dos eleitores sulistas aprovem a maneira como Bolsonaro tem agido.
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De forma geral, os dados mostram que, no momento em que o Brasil salta para a crise de olhos fechados, sem saber o tamanho e a violência da queda, os brasileiros esperam seriedade e liderança. Papel que, no momento, tem cabido aos governadores. Com o vaivém de declarações, Bolsonaro não parece preparado para um, nem para outro.
No domingo, o analista e presidente do Eurasia Group, Ian Bremmer, afirmou que Bolsonaro é o presidente mais ineficaz do mundo quanto à resposta ao coronavírus. Uma avaliação que poderá custar caro ao país. O mercado financeiro está de olho na maneira como o Brasil, já desgastado por uma profunda crise política, reage ao desafio ímpar que representa a pandemia. E temos ido mal.
A última demonstração da gestão oscilante da crise foi a Medida Provisória que previu a suspensão de salários dos trabalhadores por quatro meses, enquanto outros países atuam em políticas de proteção à renda do assalariado. Criticado, Bolsonaro negou. Disse que a imprensa mentiu. Mas, enfim, revogou o artigo que previa tal medida. Mais um vaivém.
Em meio a uma pandemia de efeitos devastadores, com emergência em saúde pública e urgência de salvar vidas, estamos em um cenário político agravado pela inépcia presidencial.
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Ônus e bônus da crise refletirão nas urnas nas eleições que se avizinham. Por enquanto, os governadores estão em vantagem.
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