Chapecó voltou a ser citada pela CPI da Covid nesta terça-feira (22), desta vez pelo deputado federal Osmar Terra. Conselheiro do presidente Jair Bolsonaro, suspeito de integrar o “gabinete paralelo” do Ministério da Saúde e notório porta-voz de previsões furadas sobre a pandemia, Terra apelou para a cidade do Oeste ao justificar por que acredita que medidas restritivas não funcionam – embora elas tenham dado resultado em diversas partes do mundo.

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Osmar Terra mente, e erra duplamente. Primeiro, ao dizer que restringir a circulação de pessoas não reduz a contaminação. Países como Portugal e Nova Zelândia são prova do contrário. Segundo porque, diante do absoluto colapso no sistema de saúde, Chapecó não teve outra opção e também adotou restrições, em fevereiro – e teve resultados com isso.

Naquele momento, com todas as UTIs lotadas, moradores da região Oeste passaram a ser enviados a hospitais no Espírito Santo. Diante da explosão de casos e mortes, o Ministério Público exigiu resposta e a prefeitura decretou, por 14 dias, o fechamento de escolas e do comércio e a suspensão de atividades como a construção civil.

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Em abril, a pedido da coluna, o jornalista Cristian Weiss, especialista em dados e responsável pelo monitoramento da pandemia de coronavírus para a NSC, analisou os números de Chapecó e comprovou que a medida teve impacto positivo:

“O número de casos ativos, pacientes em tratamento contra a covid-19 e capazes de transmitir o vírus, caiu drasticamente em Chapecó após o período de restrições. Atingiu o pico em 27 de fevereiro, com 3.683 casos ativos, caindo gradativamente em seguida”.

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As medidas restritivas costumam ser desconsideradas pela prefeitura de Chapecó quando avalia os dados da Covid-19. A versão que prevalece é a de que o muncípio adotou “tratamento imediato” – um eufemismo para o tratamento precoce – e a cidade é usada pelos bolsonaristas como suposto exemplo na gestão da pandemia.

Mas o “sucesso” não resiste a um olhar mais atento aos dados. Chapecó é a cidade com o maior índice de letalidade em Santa Catarina, entre as cinco com mais casos de Covid-19 – resultado da explosão de casos entre janeiro e fevereiro. Atualmente, a taxa é de 1,84%.

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Osmar Terra também comparou os números de Chapecó com os da cidade de Araraquara (SP), uma das únicas do país a fazer lockdown – quando também já estava em colapso no sistema de saúde. O deputado alegou que os resultados de lá foram semelhantes aos de Chapecó. Mas não é verdade.

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Com 224 mil habitantes, Araraquara teve 493 óbitos – um número elevado. Chapecó, que tem 238 mil moradores, já alcançou 645 mortes.

A fala de Osmar Terra comprova que Chapecó é a nova cloroquina na narrativa bolsonarista: equivocada, forçada, e não resiste aos números.

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