A campanha de Décio Lima (PT) divulgou neste sábado (22), no programa eleitoral, um áudio em que o empresário Luciano Hang, da Havan, teria pressionado o secretário estadual da Fazenda, Paulo Eli, para que demitisse e atrasasse salários de professores em troca de benefícios fiscais. A fala é de 2018. Na época, o estado de Santa Catarina vivia uma crise fiscal, e a Fazenda alegava risco real de atraso no pagamento do funcionalismo público. Hang afirma que o áudio foi retirado de contexto.

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O mesmo áudio chegou dias antes à coluna. A conversa é de uma reunião entre empresários da região de Brusque que teria ocorrido na sede do Governo do Estado. O então governador Raimundo Colombo (PSD) havia se afastado do cargo definitivamente e deixado o governo nas mãos do vice, Eduardo Pinho Moreira (MDB). Com dificuldade de fechar as contas, o novo governador nomeou o fiscal da Fazenda Paulo Eli, servidor de carreira, para assumir a pasta.

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Foi na troca de comando da Fazenda que um grupo de empresários de Brusque, tendo à frente Hang, teria solicitado uma audiência ao novo secretário.

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No trecho divulgado pelo Partido dos Trabalhadores na propagada eleitoral gratuita, Paulo Eli é o primeiro a falar:

– Eu tenho que pagar os salários dos professores. Estou na iminência de atrasar salários.

Hang, acompanhado de outros empresários, responde:

– Atrasa os salários. Paulo, você vai me desculpar. Atrasa os salários, demita

Paulo Eli:

– Não, eu quero o imposto das lojas.

Hang responde:

– Vocês estão pensando só no imposto de vocês para pagar o diabo dos professores. Demite a metade.

O Estado passava por dificuldades financeiras decorrentes de dívidas que se acumulavam e de uma desaceleração econômica, que fez com que a arrecadação diminuísse. Na conversa, Paulo Eli informou aos empresários que estava em vias de atrasar salários do funcionalismo. Apesar das falas durante a reunião, a folha de pagamento foi cumprida integralmente.

Nos bastidores, havia uma discussão sobre as alíquotas de ICMS para a indústria catarinense. O governo Pinho Moreira havia anunciado uma Medida Provisória com redução de 17% para 12% do imposto, o que foi facilitaria a entrada de produtos de outros estados em SC. A medida foi rechaçada por alguns setores empresariais, incluindo o setor têxtil e o varejo, que se sentiram prejudicados pela mudança. A Medida Provisória acabou sendo derrubada pela Alesc.

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O que diz Luciano Hang

Em entrevista à coluna, Luciano Hang afirmou que a reunião com o secretário Paulo Eli tinha como objetivo evitar que o governo aumentasse em 5% a tributação sobre o setor têxtil, e não pleitear novos benefícios. Ele diz que marcou com o secretário para discutir o assunto na companhia de empresários do ramo.

– A indústria têxtil de SC é a maior do Brasil, e o governo usava o pretexto de que o aumento de impostos era para pagar salários. Mas deram um jeito. Não deixaram de pagar o salário de ninguém. Estavam querendo ter argumentos para que aceitássemos um aumento de impostos.

Hang diz, ainda, que o assunto foi resolvido mais tarde na Alesc, quando a proposta de reajuste do imposto não foi aceita. Ele lembrou ter participado de uma mobilização de empresários, na época, contra mudanças nas alíquotas de ICMS.

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– SC se tornou mais competitiva e gerou mais de 200 mil empregos. Só Brusque tinge 50 milhões de quilos de malha por mês. Temos confecção para todas as grandes magazines do Brasil. Com o aumento, seria mais caro produzir aqui do que em todos os outros estados – alega o empresário.

No início da noite de sábado, Hang gravou um vídeo em resposta a Décio Lima em que diz que a campanha do PT publicou “fake news” e divulgou o áudio fora de contexto.

– Lutei para preservar os empregos dos catarinenses que seriam afetados pelo reajuste de imposto. Aquilo que passou na propaganda do Décio Lima do PT não tem nada a ver com a realidade. Eles estão perdidos, sempre duvide dessa turma da esquerda, só querem atacar nosso presidente a qualquer custo.

O que diz Paulo Eli

O secretário de Estado da Fazenda, Paulo Eli, está em férias, em viagem – mas respondeu ao questionamento da coluna. Ele disse que não lembra dessa reunião, que teve muitos encontros com setores econômicos ao longo dos últimos cinco anos, e que não recorda de todas as falas. 

Afirmou, ainda, que o trecho pode estar fora de contexto. Segundo ele, “os empresários reclamarem do tamanho do Estado é a coisa mais comum. Reduzir carga tributária e tamanho do Estado está em todas as reivindicações”.

– Nunca aumentamos impostos, fizemos revisão de benefícios fiscais e reduzimos alíquotas – afirmou o secretário.

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