A carta em que desiste de assumir a Casa Civil, publicada nas redes sociais pelo advogado Filipe Mello no fim da tarde de terça-feira (9), a menos de 24 horas da posse, caiu como uma bomba na política de SC. Nos bastidores, no entanto, a hipótese vinha sendo gestada pelo filho do governador Jorginho Mello (PL) ao longo dos últimos dias. A alguns interlocutores, Filipe já havia dito que considerava a possibilidade de abrir mão do cargo para blindar o pai. Mas queria antes uma resposta da Justiça ao recurso do Estado contra a liminar que proibiu sua nomeação.

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Na terça, Filipe foi até o Centro Administrativo, durante a tarde, e comunicou a decisão a Jorginho. Na conversa entre os dois, ficou ajustado que ele seguirá atuando como tem feito desde o início do governo – nos bastidores.

O que se seguiu foi um corre-corre para elaborar o comunicado. O núcleo duro do governo sugeriu uma nota formal. Filipe preferia uma manifestação pessoal. Escreveu ele mesmo a carta de desistência, e publicou em suas redes.

Com quem conversou após a publicação, o advogado disse que a relação familiar, causa de toda a polêmica em torno da nomeação, foi também o que motivou a desistência.

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– Não é apenas o governador. É o meu pai – disse a interlocutores.

Nas contas de Filipe está o índice de aprovação de Jorginho, que segundo pesquisa recente ultrapassa 70% em SC. O filho não quis ficar com o ônus de um arranhão de imagem.

Ao longo das últimas semanas, o governo monitorou as reações ao anúncio da nomeação nas redes sociais. A repercussão inicial era esperada e estava precificada. Mas o monitoramento apontou uma movimentação “coordenada” da esquerda, que reverberou para além da bolha.

O bolsonarismo entrou em cena e colocou a tropa de choque para neutralizar o cenário – foi quando Eduardo Bolsonaro saiu em defesa da nomeação de Filipe. Mas o receio de um desgaste permanente falou mais alto.

A saída de Filipe Mello do jogo “oficial” trouxe um problema para o governo: não há plano B. A nova estrutura administrativa, com troca de peças-chave no secretariado, foi montada em torno da mudança na Casa Civil e da nomeação de Filipe.

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Por enquanto, um secretário “tampão” assumirá o posto, até que o governador Jorginho Mello escolha um novo titular para a Casa Civil. O processo pode se estender por uma característica do governador: Jorginho é conhecido pelo “pé atrás” e por manter um grupo pequeno de estrita confiança – o que torna mais difícil encontrar alguém para um cargo com a Casa Civil, que é a espinha dorsal do governo.

Mas, se o comando da Casa Civil segue uma incógnita, a carta de desistência de Filipe dá algumas sinalizações do que vem pela frente. Primeiro, está claro que o flanco aberto não será esquecido. Ele cita textualmente a esquerda e, segundo fontes próximas, o governo entendeu a ofensiva como uma declaração de guerra.

O segundo ponto a ser observado é a frase final, quando Filipe diz que seguirá “com respeito a quem merece”. Internamente, há uma avaliação de que algumas vozes importantes da base se omitiram no momento em que o governo precisou.