Entre os dois líderes das pesquisas para a presidência da República, Lula (PT) e Bolsonaro (PL) aproveitaram de maneira diferente as entrevistas no Jornal Nacional. No saldo das sabatinas, nenhum dos dois saiu perdendo. Mas Lula soube usar melhor o tempo e os holofotes a seu favor.
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O ex-presidente saiu-se bem das questões mais espinhosas, sobre corrupção. Tranquilo, Lula soube aproveitar os questionamentos para inserir os temas que têm pautado a campanha – especialmente a economia. Falou para o telespectador. Citou a picanha e a cerveja como lembranças de seu período de governo, e disse que Bolsonaro não vai pagar o Auxílio Brasil a partir de janeiro. São mensagens que importam muito para a ideia que pretende levar ao eleitor.
Dois gestos também foram importantes. Lula citou reiteradamente o vice, Geraldo Alckmin (PSB), dando sentido à frente ampla, e procurou se dirigir muitas vezes a Renata Vasconcelos. A âncora do JN havia sido coadjuvante nas primeiras entrevistas, o que gerou críticas.
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Bolsonaro também teve seus acertos. O presidente pegou uma bancada do JN mais tensa, o que não se repetiu nem com Ciro nem com Lula – apesar disso, manteve a entrevista em um tom abaixo do habitual e conseguiu colocar sua pauta na mesa. Mas perdeu duas oportunidades.
A primeira delas foi o aproveitamento do tempo. Ao recorrer a fake news, o presidente forçou interferências dos entrevistadores e perdeu minutos que poderia ter usado melhor. A segunda, ao ser questionado sobre imitar pacientes com falta de ar. Era uma chance para tentar reverter a imagem de que desprezou vítimas da pandemia, que Bolsonaro ignorou.
Lula tem um conhecido talento para envolver o interlocutor – o que o ajuda, e o torna um personagem difícil de entrevistar. Mas, além disso, o ex-presidente teria se submetido a um midia training com um dos nomes mais conhecidos do jornalismo nacional, Chico Pinheiro, o ex-âncora do Bom Dia Brasil, que deixou a Globo poucos meses atrás. Alguns “macetes”, como olhar para a câmera e não para os entrevistadores quando dizia frases de efeito, foram pensados e lapidados.
Bolsonaro não quis passar por midia training. Preferiu uma conversa com os ministros nas horas que antecederam a sabatina.
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Entrevistas com candidatos têm uma fórmula pronta: a mesma quantidade de minutos, temas espinhosos e, no caso do Jornal Nacional, uma janela aberta para as casas de milhões de brasileiros. É difícil mensurar o quanto essa janela pode reverter em votação, mas é uma oportunidade ímpar para falar para fora da bolha.