O prefeito de Rio do Sul, José Thomé (PSD), determinou o cancelamento da Mostra Itinerante do Transforma, festival de cinema com temática LGBTQIA+, que percorre todo o Estado e ocorreria na cidade do Alto Vale nesta quarta e quinta-feira (27 e 28). A ordem chegou à prefeitura em um áudio de aplicativo de mensagem, já que o prefeito esta em férias em Nova York.

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Na mensagem, o prefeito desautoriza o uso de espaço municipal “para esse tipo de evento”. Fala de supostos “valores cristãos” e afirma, de forma equivocada, que a mostra teria classificação livre – o que não é verdade. Thomé também faz críticas ao Governo do Estado, uma vez que o projeto é patrocinado pela Fundação Cultural.

“Não é uma questão de preconceito nem de ponto de vista político ou partidário. É uma questão de respeito aos princípios cristãos, àquilo que está escrito na Bíblia e aos princípios da família, como o pai de dois filhos menores de idade, que poderiam inclusive participar dessa apresentação, porque a classificação é livre”.

A organização emitiu nota em que afirma que a censura ao evento é ilegal: “Reiteramos que em nenhuma dessas produções as premissas de moralidade e integridade são desrespeitadas. Muito pelo contrário, elas retratam com grande respeito a pluralidade e as vivências da comunidade LGBTQIAPN+”.

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Sem espaço, a produtora Bapho Cultural, em conjunto com a Associação em Defesa dos Direitos Humanos com enfoque na população LGBT, que organizaram a mostra, suspenderam a programação.

A fala “lacradora” do prefeito seguiu um modus operandi que tem se repetido em Santa Catarina: falas direcionadas à parcela mais conservadora do eleitorado, feitas para causar alarde e sem medir consequências – mesmo as legais. Na semana passada, foi Criciúma – que por pouco não perdeu um evento nacional de skate. Agora é Rio do Sul, que censura uma mostra de cinema aprovada pela Lei Estadual de fomento à Cultura.

As falas de Thomé ajudam a explicar, no entanto, que há mais por trás da lacração. Nas cidades onde não está de mãos dadas com o PL, há um esforço no PSD de Santa Catarina em reforçar a imagem conservadora. E esse movimento ganha força porque há um grupo no PL – que inclui, por exemplo, o secretário de Segurança, Sargento Lima – que acusa o PSD de trair o eleitor bolsonarista (conservador) por ter ido à Justiça pedindo a cassação de Jorge Seif (PL) no Senado.

No caso de Thomé, há ainda uma relação que nunca foi muito boa com o governador Jorginho Mello (PL), somada à intenção do PL de lançar um candidato para concorrer em Rio do Sul nas eleições municipais.

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Por fim, há um componente pessoal. A viagem a Nova York, em que anunciou noivado, rendeu críticas ao prefeito. O áudio serviu como uma conveniente cortina de fumaça.

A lacração na política é um fenômeno se alastra como rastilho de pólvora, e os dois casos recentes provam que é capaz de causar graves danos. Se há um consolo, é que ela só dura enquanto o eleitor deixar.

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