O mais novo capítulo da negociação entre o Governo do Estado e os policiais e bombeiros militares em Santa Catarina, na última quarta-feira (4), foi marcado por uma nova recusa. A Associação dos Praças do Estado (Aprasc) levantou o cartão vermelho antes mesmo do prazo dado pelo governo às entidades que representam os servidores do governo, que vence na segunda-feira.
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A expectativa de sucesso era pequena. Embora o secretário de Administração, Jorge Tasca, tenha afirmado que o Estado atua dentro dos limites orçamentários ao propor 17% de reajuste médio, mais atualização do plano de carreira, a oferta não animou os praças. Na terça à tarde, antes de reunir-se com deputados na Assembleia Legislativa, o presidente da Aprasc, João Carlos Pawlick, já havia adiantado que a tendência era que a proposta fosse rejeitada.
A busca por reajuste e reposição salarial não é demanda exclusiva de Santa Catarina, e se repete em diferentes estados com maior ou menor tensão. O problema mais grave, dos policiais amotinados no Ceará, foi resolvido. Mas o descontentamento persiste em diversos pontos pelo país – inclusive em estados alinhados ao governo federal.
No último fim de semana, a Folha de S. Paulo citou Santa Catarina como um exemplo de estado alinhado ao bolsonarismo onde, ainda assim, a demanda por melhores salários pressiona o governo. Em entrevista à coluna, esta semana, o comandante geral da PM, coronel Araújo Gomes, afastou o componente político do movimento dos militares. Disse que se trata de um movimento de reivindicação salarial, apenas, como é comum a outras categorias de servidores.
Fator Bolsonaro
Ocorre que, ainda que não apareça nas negociações oficiais, o “fator Bolsonaro” faz parte da mesa de discussão. Em Santa Catarina, uma parte dos militares se ressentiu de afirmações feitas pelo governador Carlos Moisés (PSL), em que ele criticou o estilo do ocupante do Palácio do Planalto. Para a ala bolsonarista, os comentários do governador foram vistos como “traição”.
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Mas há outra questão em jogo, e um paralelo com o estado de Rondônia ajuda a entender esse ponto. Rondônia também enfrenta o debate com militares que pedem melhoria nos salários e, segundo a Folha de S. Paulo, experimenta uma escalada de tensão. O estado é governado pelo coronel da reserva da PM, Marcos Rocha (PSL).
À reportagem da Folha, o representante da Associação de Praças local reclamou que a categoria tenta desde o ano passado discutir reajustes – mas não conseguiu espaço junto ao governo.
Negociação continua
Em Santa Catarina, o governo vem negociando com os militares e, embora as tratativas não tenham evoluído nos últimos dias, o clima é tranquilo. Nas bases, entretanto, há descontentamento no ar. Assim como em Rondônia, parte dos policiais e bombeiros catarinenses entende que um militar no governo do Estado teria olhos mais generosos para as tropas. Um ponto de vista que também deriva do estilo do presidente da república.
O fato é que os últimos governadores de SC foram poupados da pressão por melhores salários, embora a categoria afirme não receber reposição salarial desde 2013. No momento, a Secretaria de Estado de Administração afirma ter chegado ao limite de oferta. O secretário de Administração diz que o governo não negociará reajustes que não terá condições de pagar em dia no futuro.
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Os praças têm operação-padrão aprovada em assembleia, mas decidiram deixá-la como última cartada. Os próximos passos da negociação serão um teste de fogo para o governo. Fogo amigo.
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