O misterioso sumiço de Sorriso, a estátua do cachorro-candidato de Balneário Camboriú

Durante décadas, o busto de Sorriso, um simpático vira-latas, foi atração turística em Balneário Camboriú. O cachorro foi conhecido como o “político” mais querido da cidade nos anos 90, após uma “campanha” para deputado federal, em 1998, com direito a distribuição de santinhos e repercussão nacional. Mas a estátua desapareceu do local onde estava instalada, em frente a um restaurante na Avenida Atlântica.

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O desaparecimento foi notado pelo jornalista Bola Teixeira, que publicou nas redes sociais a falta da estátua. Em seguida, uma página entrou no ar cobrando respostas para o misterioso sumiço.

A preocupação tem razão de ser. Sorriso faz parte da história de Balneário Camboriú. O lançamento do “cãodidato”, na década de 1990, foi uma brincadeira de um grupo de amigos que costumava se reunir no restaurante Kananga. Ali também era o refúgio preferido de Sorriso, vira-lata que era conhecido em toda a Praia Central. O nome veio dos dentinhos desalinhados, que o deixavam com um “sorriso” curioso. 

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Em 2022, a coluna resgatou a história da estátua e entrevistou Nagel Mello Filho. Seu pai, o jornalista Nagel Mello, foi um dos responsável pela campanha de Sorriso.

– A turma do meu pai tinha ali o seu QG, onde se encontravam os empresários, políticos e os fofoqueiros de plantão. Até que surgiu a ideia de fazer do Sorriso o “cãodidato” – contou.

A brincadeira foi longe, e o vira-lata ganhou até santinhos, com direito uma foto-montagem em que aparecia vestindo um terno e um girassol na lapela. O slogan era espirituoso: “no calcanhar do Congresso”, e “não vote em vira-lata”. Até partido próprio o Sorriso ganhou, o PCdoBC – Partido Cão de Balneário Camboriú.

O santinho do Sorriso:

Na época, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começava o processo de universalização da urna eletrônica, mas só para cidades com mais de 40 mil eleitores. Balneário Camboriú ficou de fora e a eleição ocorreu com voto impresso. Foi o que possibilitou o sucesso de Sorriso. Muitos eleitores que não tinham simpatizado com a nominata de candidatos a deputado federal resolveram rasurar a cédula e votar no cachorro. O número exato é uma incógnita, mas especula-se que o simpático vira-lata teria recebido mais de mil votos.

A história rapidamente se espalhou e Sorriso virou notícia em todo o Brasil. O sucesso, no entanto, não duraria muito tempo. Menos de um ano depois das eleições, em junho de 1999, ele acabou atropelado.

– Foi como um atentado político – brincou Nagel – e rendeu mais algumas matérias a respeito. No fim, foi feito o busto.

Sorriso ficou eternizado na Avenida Atlântica junto ao restaurante, que ficava próximo à Rua 3.600. Embora não fosse oficialmente patrimônio material de Balneário Camboriu, a escultura foi listada entre as obras de arte urbana da cidade. Faz parte inclusive do roteiro do Museu a Céu Aberto (MCA), da Fundação Cultural do município. Foram usuários da rota que alertaram sobre o desaparecimnto de Sorriso à prefeitura.

– É uma obra privada. O proprietário alugou o restaurante, e a arquiteta do novo empreendimento não quis a escultura. Mas ela foi recolhida pelo proprietário, está no prédio mesmo – explica Lilian Martins Camargo, diretora de Artes da Fundação Cultural.

Estátua está guardada:

Segundo ela, o proprietário concordou em ceder a estátua para que seja instalada no calçadão da Avenida Atlântica. A documentação está pronta junto ao Planejamento Urbano, e a instalação aguarda apenas o restauro da peça. A previsão é que isso ocorra em meados de janeiro.

Reinstalado, o busto de Sorriso voltará a acompanhar o vaivém da Avenida Atlântica – mas no outro lado da rua, de frente para o local onde virou lenda.

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