A polêmica provocada pela entrega de um kit com seda, preservativos e lubrificante para usuários de drogas atendidos pelo serviço especializado da prefeitura de Itajaí mostrou o quanto a política da ignorância pode ser nefasta para a saúde pública. O “kit droga” contém nada além de objetos que podem ser encontrados em qualquer posto de saúde, e que integram a Estratégia de Redução de Danos – um programa que ajudou Itajaí a sair do primeiro lugar no Brasil em casos de Aids.

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No início dos anos 2000, a cidade liderava o ranking – consequência de uma epidemia que começou na década de 1980. Muitos dos casos eram registrados entre usuários de drogas, o que levou o município a instituir políticas como a distribuição de agulhas e seringas para pessoas viciadas em drogas injetáveis, ainda em 2005.

Isso ocorreu antes mesmo da Estratégia de Redução de Danos integrar a Lei Nacional da Politica Antidrogas, que é de 2006, e veio sendo aprimorada. Em Itajaí, o programa também evoluiu.

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A última portaria nacional sobre o tema é de 2011. Itajaí está entre os municípios brasileiros que recebem recursos federais para a estratégia, que atualmente inclui a distribuição de preservativos, lubrificantes – que servem para estimular o uso da camisinha – e a seda, que evita o uso de outros tipos de papel, como jornal, em cigarros caseiros – de maconha, ou não.

O secretário de Saúde de Itajaí, Emerson Duarte, diz que a Estratégia de Redução de Danos é voltada para pacientes crônicos, pessoas que não conseguem deixar o vício em drogas lícitas ou ilícitas – e que o evento em que foram distribuídos os kits não é nenhuma novidade. A atenção aos usuários de drogas inclui rodas de conversas e laborterapia, entre outras atividades.

– A maior preocupação é que essas pessoas sejam reconhecidas como cidadãos e tratadas com dignidade – disse o secretário à coluna.

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Ele também enviou um material por escrito, que explica o objetivo do programa: “O Serviço Público busca que se o paciente, muito embora buscando vencer o uso de drogas, não consiga alcançar o objetivo, se fizer uso o faça de forma que não prolifere as contaminações, e é exatamente nisso que estava pautada a orientação, para que se no caso de uso o seja de forma individual”.

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A Estratégia de Redução de Danos evita que os drogadictos evoluam para outros problemas, como as doenças sexualmente transmissíveis, hepatites, e as doenças de pulmão, como o câncer. É um tipo de política pública que protege não apenas o cidadão, usuário de drogas – mas também protege a saúde pública, na medida em que evita sobrecarregar os serviços com doenças que poderiam ser evitadas.

A “polêmica” causada pela distribuição do kit não passa de lacração, de ignorância. Este é o risco de uma política de baixo nível, que se alimenta do barulho oco das redes sociais – colocar em dúvida um programa de eficácia comprovada, que salva vidas e protege a saúde pública.