O processo de impeachment do governador Carlos Moisés (PSL), que mobiliza o Estado, drena esforços a ponto de lembrar a história de Pirro, rei da antiguidade que ficou famoso como o ‘vencedor frustrado’.

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> ‘Acho isso muito perigoso”, diz Moisés sobre processo de impeachment

> Bolsonaro terá que se manifestar sobre o rito de impeachment de Moisés

Pirro era rei de Épiro, uma província que ficava entre a Grécia e a Albânia. Ele ficou lembrado para sempre pela batalha de Ásculo, em que venceu os romanos – não pela vitória, mas pelo comentário que teria feito logo depois.

Tantas foram as perdas necessárias para vencer os adversários, que Pirro não comemorou a conquista. Disse que, se vencesse mais uma batalha daquela maneira, acabaria voltando a Épiro sozinho. A vitória de Pirro ganhou lugar na história como a síntese de uma conquista que custou alto demais.

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A esta altura, as previsões indicam que é grande a possibilidade de impeachment em SC. Mas o jogo, como se sabe, só acaba no apito final. De um lado e de outro, as movimentações prosseguem – e o governo, forçado a reverter seus equívocos, precisou se dobrar ao diálogo com o parlamento. Em meio às tentativas de salvar o pescoço do governador, a boa e velha oferta de cargos já apareceu na mesa de negociação.

Do outro lado, o clima é de “jogo jogado” e afastamento em vista. Com Moisés e Daniela fora de cena, Julio Garcia (PSD) assume temporariamente o governo e convoca uma eleição indireta, para a escolha do novo governo que fará um mandato-tampão.

Se a estratégia do governo funcionar, e Moisés escapar do impeachment, passará os próximos dois anos com o peso de ter sido colocado contra a parede pelos deputados. Pouco hábil em dialogar, terá um abismo ainda mais profundo a atravessar na relação com o Legislativo, que poderá custar caro.

Se a Alesc derrubar Moisés, os deputados sabem que terão que enfrentar o escrutínio público após entregarem o Estado a um governador eleito indiretamente, sem voto popular para o cargo. Uma bagagem um tanto quanto pesada para quem estará em busca da reeleição em 2022.

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História e política, vez ou outra, repetem padrões. A batalha se aproxima, e as estratégias estão lançadas. Com perdas previstas para ambos os lados, não importa quem vencer o processo de impeachment: veremos uma vitória de Pirro.

Acompanhe mais da coluna da edição impressa:

Mauricio Eskudlark e Paulinha
Mauricio Eskudlark e Paulinha (Foto: Bruno Collaço, Alesc)

De líder para líder

Ao comentar o impeachment, o deputado Maurício Eskudlark (PL), que passou da liderança do governo para a oposição, falou à imprensa nacional que Moisés é um governador “ruim de ouvir”. Já Paulinha (PDT), a atual líder, garante que a fase de isolamento ficou para trás. Aposta em um novo governo, mais disposto ao diálogo e mais aberto com o Legislativo. A votação do impeachment dirá qual versão prevaleceu.

Consenso

O deputado Luiz Fernando Vampiro (MDB), relator da Comissão Especial de Impeachment, entregará na segunda-feira uma prévia do relatório sobre o impedimento de Moisés e Daniela. João Amin (PP), que preside a comissão, acredita que deve se repetir o modelo da CPI dos Respiradores, em que as sugestões dos membros foram acatadas antes da versão final, e o relatório foi entregue com consenso para ser votado em plenário.

Composição

O aceno aos deputados tem incluído algumas tentativas de aproximação por parte do próprio governador. Moisés telefonou e enviou mensagem para o celular de alguns parlamentares ao longo das últimas semanas, depois de um longo período de isolamento e reclusão. Teve deputado que não atendeu.

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E o rei?

Pirro, o rei frustrado com que abri a coluna, tinha razão em evitar cantar vitória após a batalha. Diante das perdas que teve, os romanos perceberam que seus exércitos estavam enfraquecidos e ganharam coragem para, anos mais tarde, iniciar um novo movimento para tomar o controle do Mar Mediterrâneo. Mas essa é outra história.

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