É oficial: estamos navegando sem direção na pior crise de saúde pública dos últimos anos, sob o comando de um ególatra. Sem eco entre os líderes mundiais, isolado na posição de negacionista da pandemia de coronavírus, Bolsonaro não suportou o índice de 76% de aprovação do próprio Ministério da Saúde pela gestão da crise. Perde uma oportunidade preciosa de surfar uma onda rara de acerto.

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O presidente da República foi quem entregou ao ministro da Saúde o protagonismo sobre a gestão da pandemia de coronavírus no Brasil, ao remar na contramão da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do que dizem os especialistas no assunto. Ao apostar em debates sem fundamento, deixou brilhar a estrela de um então discreto Mandetta.

Na maior parte das grandes economias do mundo, os boletins sobre a situação da pandemia cabem a quem comanda o país. Como faz a alemã Angela Merkel, com seus discursos ponderados.

Donald Trump, admirado por Bolsonaro, foi um dos líderes que viu na gestão de crise a chance de lucrar politicamente. Passou de negacionista a defensor do isolamento social quando a situação agravou, e tomou medidas pouco ortodoxas para garantir equipamentos e testes aos norte-americanos. Como resultado, sua aprovação subiu nas últimas semanas.

Bolsonaro poderia ter feito dos acertos da gestão da crise, pelo Ministério da Saúde, um mérito de governo. Mas o presidente do Brasil parece não compreender que governar é um verbo coletivo.

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Cotado para assumir o lugar de Mandetta, o ex-ministro da Cidadania, Osmar Terra, publicou um artigo nesta segunda-feira em que demonstra seu alinhamento ao que Bolsonaro pensa sobre a pandemia. Coincidência ou não, o Ministério da Saúde anunciou em entrevista coletiva no fim da tarde uma redução nas medidas de isolamento.

Agora à noite, Mandetta veio à público para reforçar que "ciência e planejamento" continuam no foco.

Nos bastidores, a informação é de que a ala militar foi responsável por segurar o afã de Bolsonaro pela demissão do ministro da Saúde durante a segunda-feira. Ao investir no fogo amigo, o presidente expõe sua vaidade e pode acabar mostrando, sem querer, quem dá as cartas no governo.


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