Enquanto o mundo inteiro luta contra um novo vírus mortal, o Brasil, em um universo paralelo, assiste à corrida de gato e rato entre o presidente da República e um ministro da Saúde que ele mesmo nomeou. Uma briga com contornos de folhetim.
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Não faltam doses de emoção à novela oficial, transmitida diretamente de Brasília. Houve insinuações de ciúme, indiretas e roupa suja lavada em público. Sem contar o drama dos últimos capítulos, com a insinuação de que a demissão do ministro pode ocorrer a jato, por meio de uma mensagem do presidente nas redes sociais. Coisa de relacionamento que já não faz mais sentido.
Nesta quarta-feira, depois de um dia apreensivo, o ministro apareceu na coletiva de imprensa acompanhado dos secretários Wanderson de Oliveira, cujo pedido de demissão Mandetta se recusou a aceitar, e João Gabbardo dos Reis. Afirmou que os três entraram juntos e sairão juntos do Ministério, neutralizando a hipótese de Gabbardo substituí-lo – possibilidade levantada nos bastidores como alternativa para dar continuidade ao trabalho de gestão.
Deixou, assim, as pontas soltas para o próximo movimento, que deve vir do presidente. Um bom roteirista não faria melhor.
Ocorre que a novela do Palácio do Planalto distrai os brasileiros enquanto o país enfrenta um inimigo real. Invisível, invasivo e sorrateiro. O país assiste anestesiado a uma inútil batalha de versões e de poder, enquanto empilha os corpos dos mortos pela pandemia. Já são mais de 1,7 mil.
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Enquanto assistimos à discussão inócua sobre o isolamento social, como se a solução adotada por 99,9% do planeta só não servisse para o Brasil, registramos um índice de mortalidade de 6%. São mais de 28 mil contaminados no país – apesar de uma absurda subnotificação. O momento é grave demais para distrações.
Bolsonaro e Mandetta têm seus ônus e bônus com a substituição no ministério. Para o ministro, a saída pode vir a calhar num momento em que a pandemia tende a agravar no país. Se a situação ficar feia, ele pode alegar que fez falta na gestão da crise e lucrar politicamente lá na frente.
Para o presidente, a troca servirá para marcar posição, para mostrar quem é que manda. Se a situação ficar feia, pode culpar o ministro que saiu por não ter lhe dado ouvidos – ainda que suas posições contrariem as recomendações da OMS e sejam vistas como irresponsáveis pelos cientistas.
Em meio à pior crise de saúde pública já enfrentada pelo Brasil, só quem não ganha nada com a novela do Palácio do Planalto é o brasileiro.
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