Quando anunciado que o presidente Jair Bolsonaro faria um novo pronunciamento nesta quinta-feira, em rede aberta, as expectativas apontaram para um discurso de conciliação. Combinaria com o momento, às vésperas da Páscoa, e representaria uma “última palavra” oficial após a sequência de impasses com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

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Bolsonaro tentou. Pela primeira vez desde a chegada da pandemia de coronavírus no Brasil, se solidarizou com as famílias das vítimas da covid-19. Falou em “olhar o todo” e reconheceu que o país vive um momento ímpar em sua história.

Mas não conseguiu fugir de seu perfil belicoso ao falar dos governadores e dos membros de sua própria equipe de governo. Sem citar nomes, disse que todos os ministros devem estar sintonizados com ele – uma “cutucada” em Mandetta, cuja permanência à frente do Ministério da Saúde parece não ter descido tão bem para o presidente.

Ao citar os estados, Bolsonaro garantiu respeitar a autonomia dos governadores. Para então emendar que as medidas de isolamento social foram tomadas sem que o governo federal tenha sido consultado sobre “amplitude e duração”.

Horas antes, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu que o governo federal não pode "afastar unilateralmente" medidas de contenção à pandemia tomadas por estados e municípios. O que esvaziou a já anunciada intenção do presidente de acabar com as quarentenas por decreto.

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A escolha de palavras de Bolsonaro, no pronunciamento, aponta para a velha tática de responsabilizar os governadores pelas consequências econômicas da emergência de saúde pública. "As consequências do tratamento não podem ser mais danosas que a doença”, voltou a afirmar o presidente. Mais do mesmo.

As medidas econômicas foram citadas, com o anúncio do pagamento do auxílio de R$ 600 a partir desta quinta, e a possibilidade de saque do FGTS. Mas Bolsonaro não resistiu a dizer que “a grande maioria dos brasileiros quer voltar a trabalhar” – ainda que as pesquisas indiquem o contrário.

Levantamento do instituto Datafolha, publicado esta semana, indicou que 76% dos brasileiros entendem o isolamento social como a medida mais importante a ser tomada neste momento. Na contramão do presidente.

Bolsonaro fechou o pronunciamento usando a Bíblia. Mais precisamente, a citação que fala que “a verdade os fará livres”. Talvez seja um recado íntimo. Faria bem ao presidente dar ouvidos à verdade que vem das evidências científicas.

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