A doutora em microbiologia Natalia Pasternak, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), é uma das depoentes da CPI da Covid nesta sexta-feira (11). Em julho do ano passado, em entrevista exclusiva à coluna, ela classificou o uso de remédios do tratamento precoce como “medicina fantasiosa”, sem base científica.

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Natalia Pasternak: coquetel de medicamentos com ivermectina é baseado em medicina fantasiosa

Além da cloroquina, Pasternak falou sobre a ivermectina, que começava a ser adotada como tratamento “preventivo” contra Covid-19 – outra prática que não encontra respaldo científico. Na época, algumas prefeituras adotaram a distribuição do vermífugo como estratégia de combate ao coronavírus.

A pesquisadora alertou para o risco de esses protocolos de medicamentos drenassem o dinheiro público em plena pandemia, quando há grande demanda de recursos para a saúde. Ela também alertou para o fato de que muitos médicos desconhecem com funcionam os medicamentos.

”Acho lamentável que as pessoas se iludam”, diz médica da Fiocruz sobre uso de ivermectina e cloroquina

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“O médico não tem obrigação de ser cientista, mas tem obrigação de entender minimamente como funciona a ciência que deve embasar as condutas médicas”.

Natália Pasternak será ouvida pela CPI da Covid junto com o médico sanitarista Cláudio Maierovich, que coordena o Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fiocruz em Brasília.

Os requerimentos para ouvir os dois especialistas foram apresentados pelos senadores Renan Calheiros (MDB-AL), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Humberto Costa (PT-PE) e Marcos do Val (Podemos-ES). Eles citaram, na justificativa, as condições que os dois cientistas têm para esclarecer qual teria sido a melhor forma de combater a pandemia no Brasil.

Relembre trechos da entrevista de Pasternak à NSC:

Kit Covid

“O kit todo é baseado numa medicina fantasiosa, numa medicina baseada impressões, e não baseada em ciência. A impressão do médico é algo extremamente enganoso. O médico olha para o paciente e diz – o paciente chegou com quadro de covid. Eu dei ivermectina e ele melhorou. Portanto, a ivermectina curou meu paciente. Mas isso não é verdade, não é assim que a gente testa medicamento. O paciente pode ter se curado espontaneamente, apesar da ivermectina. Como acontece com 90% dos pacientes de covid. Numa doença que tem 90% de cura espontânea, as pessoas saem dessa sozinhas, sem nenhum tipo de medicamento, você não pode usar um kit desses e falar que é o kit que está dando resultado. Para medir isso precisa de um teste clínico controlado”.

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Empenho dos médicos

“Preocupa muito, isso mostra dois fatores muito preocupantes. Grande parte dos médicos no Brasil não entende como funciona o teste de um medicamento. E não entende como se estabelece causa e efeito para um medicamento no tratamento de uma doença. Isso quer dizer que a gente falhou nas nossas escolas de medicina, não estamos treinando bem os nossos profissionais. O médico não tem obrigação de ser cientista, mas tem obrigação de entender minimamente como funciona a ciência que deve embasar as condutas médicas. Fármacos e medicamentos são coisas que eles têm que entender como funcionam. Então, é preocupante primeiro por isso, porque mostra que grande parcela da comunidade médica não compreende bem os processos da ciência. E é preocupante porque a população é treinada para confiar no que o médico diz. Existe uma autoridade muito forte inserida na figura do médico. Se o médico fala – tome ivermectina porque você vai ficar curado, ou não vai pegar a doença, a maior parte das pessoas acredita. Isso pode, como eu falei, gerar mudanças de comportamento muito perigosas”.

Aposta em medicamentos não comprovados

“Isso são evidências que a gente chama de anedóticas em ciência. São observações, casos em que as pessoas acham que estão vendo uma relação de causa e efeito. Mas, para estabelecer uma relação de causa e efeito, para o uso de um medicamento, você precisa de testes clínicos controlados. Quando você fala – tem uma cidade que usou, nessa cidade tem menos mortes do que em outra – a única diferença entre essas cidades não é a ivermectina. Tem um monte de outros fatores de confusão que podem estar interferindo em uma cidade ter desempenho melhor do que outra. As pessoas podem ser mais engajadas na quarentena, a cidade pode ter uma rede hospitalar melhor, o pronto atendimento pode ser melhor, a comunicação com a população, para disseminar as regras de segurança pode ser melhor, a cidade pode ter menos habitantes, ser menos densa. Então, tem diversos fatores de confusão que podem influenciar como uma cidade, ou mesmo um país, vai responder à pandemia. A gente não tem como atribuir uma melhora de desempenho de uma cidade a um único fator. Ainda mais um fator que não tem nenhuma comprovação de eficácia em testes clínicos. Essa relação de causa e efeito, não tem como a gente medir assim”.

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