O deputado federal Jorge Goetten (PL) foi alvo de pressão nas redes sociais por ter se recusado, inicialmente, a votar a favor da CPI do 8 de Janeiro no Congresso Nacional. Acabou voltando atrás. Ainda em novembro, ele já havia chamado atenção ao se posicionar contrário aos bloqueios de rodovias e atos antidemocráticos, que vinham sendo endossados por uma parte dos parlamentares. O colega Anderson Silva escreveu que Goetten tenta “furar a bolha do bolsonarismo”.

Continua depois da publicidade

Receba notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp

Em entrevista à coluna, o deputado fala sobre sua relação com os demais parlamentares, com o partido, e sobre a maneira como entende a política. Diz que é oposição ao governo Lula (PT), mas não deixará de buscar o diálogo – inclusive com ministros, que tem procurado para tratar sobre demandas de SC.

Deputado bolsonarista de SC tenta furar a bolha, mas bolsonarismo reage

Como foi a pressão em relação à CPI?
Pensei bem, e justifiquei por que não assinei a CPI. Depois de estar completo o número de assinaturas (quando assinou), não quis passar uma imagem de aproveitador. Pelo contrário. Eu assinei em solidariedade aos colegas parlamentares. Mesmo sendo contra, agora tenho autoridade para cobrar dos colegas que vão conduzir a CPI, para que não usem como palanque para espalhar falsas notícias, criar falsas esperanças, porque isso tem causado muitos problemas – não só entre as pessoas que estão presas, mas também para a população de modo geral. As pessoas muitas vezes são usadas por outras mal intencionadas, que usam da ingenuidade das pessoas para objetivos próprios. Eu não sirvo para isso. Gosto de avaliar bem o cenário, e não quero seguir pelo caminho mais fácil, mas pelo caminho melhor. E não acho que o caminho melhor seja criar falsas esperanças. Quero sim contribuir e ajudar para diminuir o sofrimento daquelas pessoas. É claro, quebraram, fizeram vandalismo, têm que pagar. Mas que seja justo para quem deve e, se tem alguém ali que não esteve envolvido, que se apure e libere. Acho que é pedagógico isso, porque é lamentável o episódio que aconteceu. Eu não compactuo com isso.

Continua depois da publicidade

Presidente da Comissão de Educação, Carminatti defende comunitárias na Faculdade Gratuita

O senhor já tinha se manifestado sobre os bloqueios, contrário aos atos. Isso lhe causou algum problema?
Não tenho recebido nenhuma pressão (do partido), mesmo agora na CPI. Temos essa liberdade com responsabilidade. Não é que fui contra o partido quando fui contra o bloqueio (das rodovias). Apenas quis alertar que aquilo não levaria a nada, e nós mesmos sempre pregamos esse direito de ir e vir. Agora vamos impedir isso? Procuro agir com coerência, e com muita humildade reconhecer quando eu erro. Mas procuro sempre me informar, ser o mais assertivo possível. Da mesma forma sobre as urnas, da mesma forma sobre a diplomação do atual presidente Lula, da posse. Eu sempre tive convicção de que iria acontecer e explicava por que, que não haveria ruptura institucional. Tenho que ter uma responsabilidade muito grande para não criar falsas esperanças, para não levar falsas notícias para as pessoas agirem baseado no que falei. Eu me sentiria com remorso. Tem muitas pessoas que foram presas ingenuamente, que fizeram o que fizeram baseado no que muitas pessoas falaram. Essas que falaram estão aqui tranquilas, belas e formosas, e as pessoas estão lá, presas e sofrendo, a família sofrendo. Isso eu lamento bastante. É por essas pessoas que estão sofrendo, que fizeram o que fizeram porque foram alienadas, induzidas, que eu não quero que a CPI de 8 de janeiro continue criando falsas notícias, que seja técnica no sentido de diminuir o sofrimento das pessoas presas e das famílias delas.

“Nem tão direita, nem tão esquerda” diz MDB de SC em campanha de aniversário

Dentro do PL tem um grupo político e um mais ideológico. O mesmo ocorre com a bancada de SC. O senhor acha que essa diferença vai funcionar bem na condução da CPI?
Sou muito de entendimento, de diálogo. Se todo mundo tiver humildade, equilíbrio, temperança, de ouvir e discutir ideias, a soma pode ser o modelo ideal. É importante que tenha esses pontos de vista diferentes. Mas também é importante encontrar o que nos une. Fazer uma oposição responsável, fiscalizadora. O Brasil está cansado, o povo está cansado. Precisamos de mais amorosidade, não deixar que a política afaste as pessoas. Política tem que ser um palco de diálogo, de conversa. A política é feita para diminuir o sofrimento das pessoas. O papa Francisco diz que a política é a forma mais elevada de caridade. Então temos que fazer política. Não está em nenhuma escritura que devemos usar a política para nos afastarmos das pessoas. Pelo contrário, é para aproximar. Quero dar minha contribuição e não vou fazer concessão a esses princípios de diálogo, conversa, temperança e equilíbrio.

O senhor tem procurado ministros, e isso lhe causou algumas críticas nas redes sociais. Pretende manter esse diálogo?
Com certeza. Fui visitar o DNIT por causa da BR-470. Todo mundo quer solução. Quando o pessoal da comunicação foi publicar, eu disse que gostaria que publicassem também um agradecimento à deputada Ana Paula Lima (PT). Ela e o Décio Lima terão um papel importante na celeridade das obras da BR-470. Não quero holofotes, quero resultado efetivo. Quero visitar a secretária adjunta de Educação, Izolda Cela (número 2 do MEC), para tratar sobre EAD. Estive em conversas com o vice-presidente Geraldo Alckmin, falamos sobre Reforma Tributária, e assim por diante. Vou dialogar, política é isso. Quero exercer bem meu mandato de quatro anos. Meu compromisso é com a verdade, a coerência, e em preservar meus princípios.

Leia mais

Décio Lima é o favorito para assumir comando nacional do Sebrae

Família de Antonieta de Barros contesta medalha para deputada antifeminista em Florianópolis

Santa Catarina precisa de R$ 3 bilhões para melhorar rodovias, avalia CNT

Escândalo do lixo pode chegar a iluminação e saneamento e envolver outras empresas