Moisés e o mito de Narciso

A mitologia grega, farta em referências e simbologias, apresentou ao mundo a história de Narciso. Filho de um deus e uma ninfa, o jovem foi enfeitiçado por uma admiradora rejeitada, que o condenou a apaixonar-se pela própria imagem.

A entrevista do governador Carlos Moisés (PSL) aos colegas Upiara Boschi e Raphael Faraco, publicada no último fim de semana, dá pistas de que Moisés tem um quê do mito grego. O governador está enamorado do próprio governo, ao qual atribui um “brilho natural”. Em um ano e meio de um mandato, já ousa dizer que fará o “melhor governo da história de Santa Catarina”.

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Uma nível tão elevado de autoconfiança, que nem parece que o governo enfrenta problemas sérios. É esfolado por uma CPI, alvo de pedidos de impeachment na Assembleia Legislativa, e, internamente, sofre as consequências do vaivém de secretários em posições estratégicas.

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A fala de Moisés sobre a gestão da pandemia, por exemplo, destoa do cenário de aceleração de casos e óbitos que o Estado vivencia nas últimas semanas. Ou mesmo da desastrosa compra de respiradores, marcada pelo amadorismo e pelas suspeitas de fraude, que jogaram o governo na fogueira e o governador na mira das investigações.

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Moisés tem méritos na condução da pandemia. Conseguiu colocar Santa Catarina em posição de destaque no país ao melhorar o sistema de transparência na divulgação de dados e ao adotar o isolamento social antecipado, que segurou, lá no início, um aumento acelerado da transmissão do coronavírus. O problema é que o governador apegou-se às pequenas vitórias para supor que venceu a guerra.

No mito grego, ao ver seu rosto refletido na água, Narciso ficou tão extasiado com a própria beleza que acabou consumido pela contemplação. Para que o governo tenha um rumo, Moisés precisa colocar o pé na realidade e deixar de contemplar os próprios feitos.

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