Chegamos às 500 mil vidas perdidas para a Covid-19. Um número semelhante à quantidade de mortes em dez anos de guerra na Síria. Mas, quem se importa? 

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Brasil atinge marca de 500 mil mortos por Covid-19

A esta altura, todo mundo conhece uma ou mais pessoas que morreram de Covid-19. Amigos, parentes, vizinhos. Talvez um pai, uma mãe, um filho. Mas não há tempo para chorarmos os mortos. O Brasil não pode parar.

Engolimos o choro, atropelamos o luto. Culpamos os mortos, procurando qualquer motivo para justificar o óbito. “Tinha pressão alta”. “Era obeso”. “Era sedentário”. “Fumante”. No Brasil da pandemia, somos todos descartáveis.

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A trivialidade da morte, transformada em números que sobem sem cessar, empurra os mortos para debaixo do tapete. Como em A Peste, de Camus, nossos mortos são “intrusos que se desejava esquecer”. A vida continua.

A pandemia despertou os egoístas que habitam em cada um de nós. Teve quem acumulou papel higiênico em casa. Teve quem nunca pensou no risco de contaminar os outros. E teve aqueles que acharam que algumas vidas a menos são um preço razoável pela saúde da economia.

Sem direção, afinal, cada um se apega ao que lhe é mais caro. E como julgar os valores dos outros quando nos inundaram com mentiras? Quando apostaram nossas vidas em uma estratégia de “imunidade de rebanho”, que deixou milhares de mortos pelo caminho? Quando nos negaram vacinas?

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Chegamos aos 500 mil mortos com a pandemia em aceleração no Brasil, e não sabemos onde esse placar vai parar. Se fizéssemos um minuto de silêncio para cada vida perdida, passaríamos quase um ano inteiro sem proferir nenhuma palavra. 

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Em vez disso, seguiremos a vida sem olhar para trás. Muitos de nós, tomando os cuidados possíveis diante da omissão de quem deveria se importar com a vida de todos. Outros estarão mais preocupados com a própria “liberdade” do que com a vida alheia. Todos nós sob o mesmo risco, de virar mais um número no placar da morte.

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