Uma pacata casa de chácara, na zona rural de Rio dos Cedros, no Médio Vale do Itajaí, escondia o primeiro laboratório de desenvolvimento de drogas sintéticas descoberto pela polícia em Santa Catarina. A operação, que envolveu a Polícia Federal, a Polícia Civil e a Polícia Rodoviária Federal (PRF), na madrugada desta quarta-feira (27), resultou na prisão de seis pessoas e na apreensão de material que, depois de processado, renderia R$ 18 milhões à quadrilha.
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A apreensão é uma das maiores já feitas no país. Eram 35 quilos de MDA, metilenedioxianfetamina em pó — substância que serve para produzir ecstasy e MDMA, duas versões de drogas sintéticas — e produtos químicos suficientes para chegar a 600 mil comprimidos, depois de processados.
É a primeira vez que a polícia encontra, em Santa Catarina, um laboratório que produzia a matéria-prima. A suspeita é de que o MDA, em pó, era distribuído a outros laboratórios pelo Estado que o transformava na versão final, que era então traficada.
As investigações partiram da descoberta de um desses pequenos laboratórios de prensagem da droga, para transformá-la em comprimidos, no Bairro Espinheiros, em Itajaí, em fevereiro de 2018. No local havia produtos químicos pertencentes a uma empresa de Joinville, que revende esse tipo de material.
Esses produtos têm a venda monitorada pela Polícia Federal (PF), porque são perigosos. A investigação apontou, então, que havia movimentações suspeitas na empresa.
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— Eram muitos compradores, pessoas que não moravam na região, e não tinha lógica estarem aqui. A análise de CPF dos compradores também mostrou que eles não tinham atividade profissional relacionada a produtos químicos — explicou o delegado Alex Biegas, chefe da delegacia da PF em Itajaí.
Entre as incoerências, a polícia descobriu a venda de ácido clorídrico — usado na produção da droga — para um assistente administrativo, e a compra de produtos similares por idosos em outros estados do país.
A polícia passou, então, a monitorar a distribuição dos produtos químicos por parte da empresa. A descoberta do laboratório de sintetização veio depois, em outubro do ano passado, e desde então a força-tarefa entre as polícias trabalhava para flagrar a produção de drogas. Com a proximidade do Carnaval, a investigação apontou que o grupo se reuniria para produzir matéria-prima.
Engenheiro químico e empresário presos
A Operação Psy Trance, como foi batizada a ação da polícia, prendeu em flagrante cinco pessoas no laboratório durante a madrugada. Entre elas um engenheiro químico, de Balneário Camboriú, que, segundo o delegado Biegas, estava montando o laboratório.
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Pelo menos duas pessoas detidas eram conhecidas da polícia, com registro de passagens por furto e tráfico — um deles chegou a ser pego com mais de mil comprimidos de ecstasy anteriormente. Mas parte dos presos não tinha nenhum registro criminal.
O empresário responsável pelo suposto abastecimento da quadrilha com substâncias químicas também foi preso, em Joinville, pela Polícia Federal. A identidade dele, e o nome da empresa, não foram divulgados.
Lojas para lavar dinheiro
Pela manhã, a polícia cumpriu mandados de busca e apreensão em Camboriú, Balneário Camboriú, Joinville, Rio dos Cedros e Anitápolis. Além da casa dos suspeitos, o alvo foram comércios onde, segundo o delegado Vicente Soares, da Divisão de Investigações Criminais (DIC) de Balneário Camboriú, suspeita-se que a quadrilha fizesse lavagem de dinheiro obtido com o tráfico.
— São lojas de roupas femininas, que pertencem a namoradas ou esposas (dos presos), em Camboriú e Balneário Camboriú — afirma.
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A polícia vai avaliar, agora, a movimentação financeira dos negócios. São comércios de mercadorias baratas, que justificariam a grande movimentação de dinheiro vivo.
Todas as prisões ocorreram em flagrante, por tráfico de drogas e associação para o tráfico. A polícia deve pedir à Justiça que seja decretada prisão preventiva, para manter os alvos detidos.
O material recolhido será enviado ao Instituto Nacional de Criminalística (INC), para que os produtos usados sejam rastreados. A polícia quer descobrir se outras empresas também forneceram matéria-prima para a produção.