Em toda a sua vida pública, que inclui dois governos, Lula (PT) nunca se afastou dos princípios da democracia. Dito isto, causa espanto e ainda repercute a fala do presidente de que “o conceito de democracia é relativo”, frase que disse em entrevista à Radio Gaúcha para defender o regime de Nicolás Maduro na Venezuela.
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Do ponto de vista teórico, Lula está correto. Mas não eram a Ciência Política e suas teorias ou reflexões que estavam em debate. A gestão Maduro, que persegue opositores e calou a imprensa livre, está longe de se enquadrar em um regime democrático. A Corte Penal Internacional já recebeu mais de 1,7 mil denúncias contra ele. Um relatório da ONU apontou 122 casos de violações de direitos desde 2014.
O Brasil precisa manter boas relações com a Venezuela, país com que faz fronteira e com o qual divide grandes desafios, como a presença do narcotráfico e dos grileiros na Floresta Amazônica. Mas Maduro tem de Lula mais do que a relação institucional. Tem a simpatia. Um dos motivos é o interesse econômico do Brasil na Venezuela. Outro é o fato de que Maduro faz parte do “clube da esquerda latino-americana”. Ocorre que ditadores e líderes autoritários não devem ser exaltados em uma democracia.
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Para defender Maduro, Lula se coloca em contradição e mancha a própria biografia. O presidente se elegeu como “candidato da democracia”. Em nome dela, reuniu uma frente ampla que foi fundamental para alçá-lo ao terceiro mandato, vencendo pela primeira vez um candidato que tentava a reeleição, que tinha a máquina na mão e a usou amplamente na campanha. Ao relativizar a democracia, o presidente coloca a si mesmo e ao Brasil num terreno perigoso.
O país passou por traumas que estão muito recentes para serem desprezados. Há apenas seis meses, radicais invadiram as sedes dos Três Poderes e incitaram um golpe de Estado. Tudo indica que o enredo tenha as digitais militares, que já torturaram a história brasileira com mais de 30 anos de ditadura. Nesse contexto, falar em “democracia relativa” não é apenas fora do tom, mas um endosso às ameaças antidemocráticas que o Brasil experimentou recentemente.