A repercussão da fala que comparou a ofensiva de Israel sobre os palestinos com o Holocausto é a prova de que Lula falou demais. O problema não está na reprimenda a Benjamin Netanyahu, que é justa e legítima – mas em trazer à tona, e de forma equivocada, uma ferida dos judeus.
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“Utilizar o Holocausto como arma discursiva é sempre errado”, como pontuou o Museu do Holocausto dos Estados Unidos. Lula queria chamar atenção para a tragédia dos palestinos. Acabou criando um problema para o Brasil.
O presidente está certo em criticar os caminhos que Netanyahu tomou na guerra ao terrorismo do Hamás. Entre as vítimas inocentes estão milhares de crianças, mulheres, idosos, funcionários dos órgãos internacionais de ajuda humanitária e jornalistas. A ofensiva ao terror se transformou em uma sucessão de crimes de guerra.
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A necessidade de um cessar-fogo é urgente, o que é reconhecido mesmo pelos Estados Unidos, aliados de primeira hora de Israel – os norte-americanos, que nesta terça votaram contra a solução apresentada pela Argélia, negociam a própria proposta para interromper o conflito. O Brasil, é bom lembrar, já havia apresentado o cessar-fogo no Conselho de Segurança da ONU.
Também nesta semana, o Tribunal de Haia está analisando as consequências legais da ocupação de Israel em territórios palestinos, com denúncias de um apartheid. Netanyahu está pressionado, dentro e fora de Israel, e isolado.
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Nesse cenário, a fala desastrosa de Lula serviu para inflamar e beneficiar o líder israelense. Netanyahu “surfou” no descuido retórico do presidente brasileiro, e aproveita o incidente diplomático para tentar melhorar a própria popularidade, bastante arranhada.
O impacto, para o Brasil, foi menos relevante no cenário mundial do que no campo doméstico. A afirmação de Lula incomodou a comunidade judaica brasileira – inclusive a mais progressista – e serviu de munição para a oposição. O presidente tem a pretensão de ocupar um papel de articulador no cenário global. Para tanto, precisa medir as palavras.
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