A ausência do governador Jorginho Mello (PL) nas agendas do presidente Lula (PT) em Santa Catarina foi sentida, comentada, e trará uma dificuldade a mais para o Estado na relação com o governo federal. Ao “escapar” do palanque ao lado o presidente da República, Jorginho descumpre o que prometeu ao ser eleito, em 2022, quando repetiu em diversas entrevistas que teria uma relação institucional e republicana com Brasília.
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Não se espera de Jorginho que deixe de lado a fidelidade a Bolsonaro (PL), que o ajudou a ganhar as eleições. Mas que coloque à frente das questões político-ideológicas o interesse maior de Santa Catarina – e isso passa pelo diálogo com o governo federal, independentemente de quem ocupe o cargo.
Lula estava certo ao dizer, na inauguração do Contorno Viário, que o governador perdeu uma grande oportunidade. Jorginho poderia ter usado o espaço, democraticamente, para fazer as muitas cobranças necessárias a Santa Catarina.
Mais do que isso, o governador dobrou a aposta ao fazer nas redes sociais uma série de críticas ao evento e ao presidente da República. Abriu um flanco e recebeu, como resposta, um vídeo do ministro dos Transportes, Renan Filho, com críticas ao governo estadual – dizendo, inclusive, que as obras da BR-470, cobradas por Jorginho, não caminham com mais rapidez porque a SC Gás, que é estadual, está atrasada na instalação de tubulações. Também cutucou Jorginho por não avançar em concessões públicas, como a da BR-101, que tinha como uma das obras contratadas o Contorno Viário.
A crítica é porque Jorginho recusa a proposta do Ministério dos Transportes de fazer concessões híbridas em SC, de rodovias federais e estaduais, como está executando no Paraná – um projeto de investimento bilionário, e que também é levado adiante em um estado que tem coom governador um bolsonarista.
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Jorginho tem recusado sistematicamente o contato com ministros de Lula – o que lhe rendeu a pecha de “ministrofobia”. Isso tem consequências como a demora em fechar os acordos necessários para resolver o problema com a Barragem de Taio, no Alto Vale do Itajaí, que causa grandes prejuízos a SC. Há outras questões, como a discussão sobre a dívida bilionária que o Estado tem com a União, que também dependem de interlocução.
O governador vai contra o próprio histórico político ao fugir do diálogo, e interdita uma relação não só importante, mas fundamental para Santa Catarina e qualquer estado no modelo federativo que funciona no Brasil.
Nesse cenário, o ponto positivo é a postura da vice-governadora Marilisa Boehm. Escalada como embaixadora de Jorginho nas agendas em que ele não quer se expor, ela tem cumprido o papel de maneira republicana e exemplar.