O único pedido de Jaison Tupy Barreto, quando aceitou falar à coluna, foi não ser chamado de senador. A classe está muito desmoralizada, disse.
Médico, senador e duas vezes deputado federal entre as décadas de 1970 e 1980, quando fez oposição à ditadura militar, o catarinense foi um dos líderes mais expressivos e populares de Santa Catarina a transitar na política federal.
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Aos 86 anos, Barreto diz que esta é a pior crise que já viveu. Nesta conversa, falou sobre pandemia, polarização e a falta de lideranças no Brasil.
ENTREVISTA: Jaison Tupy Barreto
Esta é a pior crise que o senhor viu no Brasil?
Não me lembro de nada pior. O mundo inteiro está vivendo uma crise de saúde, é evidente, e estou dizendo o óbvio, que vai ter desemprego em massa, reflexo na economia. O mundo já chegou a uma conclusão sobre como se comportar, pelo menos o mundo que se considera civilizado. Sabe da repercussão e que tem que pagar o preço.
No Brasil, estão seguindo a visão de banqueiros, economistas.
Falam, e a economia? Mas não querem gastar.
O pobre, para ganhar R$ 600, é uma tragédia. O resto do mundo gastou. Trump investiu trilhões de dólares. E não vejo (solução) com essa bipolarização. Que agora nem é bipolarização, porque o PT se afogou nos próprios equívocos. O país ficou sem liderança política, sem heróis. Isso não temos mais. O presidente é primário.
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Há solução para a polarização?
É uma concepção burra, de direita e esquerda. Parece que ainda estão na guerra fria. Falta liderança no país, o sistema político deixou o país entregue a essas manipulações, a mentiras organizadas através das redes sociais. O Congresso tem gente de boa qualidade, mas que não é ouvida.
O Congresso brasileiro é um circo.
Haverá mais Estado depois da pandemia?
Vai ter o tamanho que a inteligência indicar. O “posto Ipiranga” (ministro Paulo Guedes) fez um discurso forte e carregado contra o servidor público, mas ele próprio é um servidor, como ministro. O mundo precisa de Estado. O tamanho é o mais necessário, organizado, competente. Não pode ter um como o nosso, que é uma vergonha. Supervalorizado, mal dirigido, com corrupção endêmica.
O que está faltando no Brasil?
A minha experiência é que está faltando liderança. De ditador está cheio, de general está cheio. A classe política está sofrendo de falta de lucidez e bom senso. Há um esforço dos governadores de buscar consenso, e seria uma solução, um ponto de partida, sem radicalismos. Seria uma solução viável para todo mundo. O caminho vai ser esse.
Ditador e salvador da pátria não tem mais.
O Brasil caminha para se tornar um párea mundial, na sua avaliação?
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É difícil fazer uma avaliação desse tipo, porque a coisa é tal complicada, tão complexa. Há um descompasso entre a ciência e a realidade. É um despreparo inacreditável.
Não imaginei que depois de tantos anos de ditadura os generais concordassem com isso. Estão se penitenciando.
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