O Conselho Universitário da UFSC faz nesta segunda-feira (2) a eleição da lista tríplice para os cargos de reitor e vice-reitor, em meio a uma situação inédita e polêmica. Entre os inscritos está o professor Luiz Felipe Ferreira, do Departamento de Ciências Contábeis e do Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da UFSC, que não passou pela primeira fase das eleições – a consulta à comunidade universitária.
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As eleições da UFSC ocorrem em duas etapas, uma informal, e outra formal. A informal é a consulta à comunidade, que, embora não tenha peso deliberativo, serve como base para a etapa seguinte – a inscrição nas eleições formais, do Conselho Universitário. O escolhido pela comunidade acadêmica foi o professor Irineu Manoel de Souza. Os professores Dilceane Carraro e Miriam Furtado Hartung, que integraram sua chapa, também se inscreveram.
É praxe, há 40 anos, que os candidatos inscritos sejam os integrantes da chapa vencedora e que os derrotados na consulta informal não se candidatem à lista tríplice, de onde sairá o reitor escolhido pelo presidente da República.
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A decisão do professor Luiz Felipe Ferreira, de inscrever-se diretamente no Conselho Universitário, é alvo de críticas e acusações de que ele tenta ser um reitor “biônico”, sem reconhecimento da comunidade acadêmica – o que ele contesta. Em entrevista exclusiva à coluna, ele fala sobre a decisão de concorrer nas eleições e diz que tem apoio suficiente para ser nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro, se integrar a lista tríplice.
Por que o senhor não entrou na eleição da comunidade acadêmica?
O importante é deixar claro que não sou contra a consulta acadêmica, ela favorece o processo democrático. Isso é uma questão pontual. Sobre o porquê de eu não ter me inscrito, a tratativa iniciada e as discussões apresentadas pelo Conselho Universitário, que não poderia opinar na consulta pública, e isso aconteceu na Universidade Federal, já apontava um viés em relação à regra. Tudo indicava qual seria o cenário final, porque a regra do jogo estava tendenciosa, e a minha preocupação é com a moralidade pública.
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A que o senhor se refere quando diz que a regra do jogo estava tendenciosa?
Para fins legais, a consulta informal também teria que seguir a proporção em que o voto do professor equivale a 70%. Nesse pleito se construiu uma paridade, alegando que ela traz a democracia, e cada grupo teria um terço dos votos. É uma diferença muito grande. Na primeira etapa, não seria o mesmo resultado se fosse a regra legal. Já havia uma intenção de burlar.
A intenção foi de quem?
É um conjunto de fatores. O conselho tem uma autonomia. Se a intenção era uma consulta prévia dentro da regra paritária, não existe problema nenhum. Ela só não pode ser vinculante à eleição do Conselho Universitário. Ter uma prerrogativa de que, para se inscrever no Conselho Universitário, tenha que ter passado por essa primeira etapa. Se ela impede que outros candidatos se inscrevam, se torna vinculante. O candidato foi eleito na regra paritária e o Conselho Universitário não tem como alterar esse resultado.
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É um acordo tácito, é a praxe.
Pode ser entendido como praxe, mas não traz a moralidade pública.
Por que só agora o senhor resolveu questionar isso, se é algo que ocorre há muito tempo?
Nunca antes o Conselho Universitário se envolveu nessa praxe. Era delegado o procedimento para as entidades. Nunca teve impedimento de alguém se inscrever no Conselho Universitário.
Mas alguém estava sendo impedido agora?
Não, mas eu tenho encarado, do que tem sido noticiado, como uma retaliação à instituição.
O que o motivou a tomar esse caminho?
Eu já tinha o apoio de diversos professores, com essa premissa da moralidade, com o intuito de ter uma outra frente para a universidade.
Se o senhor tinha esse apoio, não valeria referendar com a comunidade universitária?
Eu já estaria participando de algo ilegal.
Que o senhor considera irregular, certo?
Irregular, tanto, que mesmo antes do final da segunda etapa da eleição um dos candidatos se manifestou numa entrevista como funcionava o pacto. Da mesma forma que estão questionando como me inscrevi, tem outras duas inscrições que foram feitas no mesmo período e que não é feita contestação nenhuma. Por que só a minha estaria irregular? Se você olhar a ficha de inscrição, tem quatro nomes. O primeiro, que é resultado da consulta informal, e outros três nomes. Por que só o meu está sendo questionado? Existe algo que permeia esse acordo? Que se questione todos os nomes que não participaram da consulta informal.
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Essa não é uma situação dessa eleição, é uma praxe e algo que ocorre em outras universidades federais também. O senhor acredita que o melhor meio de questionar é esse?
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Não discordo do sistema de eleição. Também não estou discordando da forma paritária, mas exercendo um direito legal que me cabe. São dois editais distintos, esse primeiro edital não é uma premissa para se candidatar ao posterior. Atendo ao critério, me sinto apto, juntamente com o grupo que me apoia, a participar desse pleito. Não posso pensar que, se sempre teve uma ilegalidade, isso deve perpetuar no âmbito acadêmico. A grande justificativa é o cenário que a universidade tem passado nos últimos anos. Uma imoralidade que começa no processo eleitoral se perpetua em outros ambientes.
O senhor avalia que tem chances de entrar na lista tríplice?
Sim, tenho um grupo forte de apoio, e que participaram da eleição em apoio tanto à candidatura A quanto à candidatura B.
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O seu nome entrando na lista tríplice, o senhor tem chance de ser nomeado pelo presidente da República? Trabalha para isso?
Se fiz a inscrição, foi pensando em chegar a reitor. Tenho esse grupo que me apoia em todas as áreas, em todos os segmentos, temos condição sim de trazer integridade, moralidade a instituição.
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O senhor não teme que, vencendo a eleição e nomeado, passe por uma crise de reconhecimento, como ocorreu em outras universidades?
Vamos trabalhar para agregar, não para desagregar.
O senhor não acredita que possa haver uma crise de legitimidade?
Pode haver, estamos preparados para superá-la. O trabalho vai mostrar competência, resultado, e a competência vira normalmente, com naturalidade.
Qual a sua plataforma, sua perspectiva se for eleito?
Temos que trabalhar em cima do reconhecimento, fortalecer a universidade pública, gratuita. Costruir algo diferente do que tem hoje. Inovação, tecnologia, gestão, são instrumentos do dia a dia, então por que não trazer, respaldados pela moralidade e transparência? O objetivo não é trazer desarmonia, é refletir o que se quer da universidade federal.
Depois da entrevista, o professor enviou um áudio à coluna pedindo um complemento a respeito de sua motivação para concorrer. Disse que sua passagem pela Constroladoria Geral do Estado, no início do governo Moisés, lhe deu “outra amplitude da importância da moraidade administrativa”.
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– Você fica num ambiente confinado, sempre voltado às mesmas questões, e algumas ações se tornam quase que imperceptíveis. O ilegal se torna legal. Essa passagem pela Conotroladoria me trouxe novos horizontes sobre as implicações e as variáveis da questão pública.
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