O que está por trás da urgência no infame PL 1904/24, que equipara o aborto ao crime de homicídio – e que pode punir uma mulher estuprada com o dobro da pena de seu estuprador – é o projeto de poder do presidente da Câmara, Athur Lira (PP). Sem nenhum pudor, Lira fez um gesto à bancada radicalizada mirando na disputa pela presidência da Casa, e na manutenção de seu império.
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Na mesma jogada, ele conseguiu emparedar o governo, que vergonhosamente apoiou a votação de urgência por medo da reação do eleitorado evangélico. E, de quebra, conseguiu jogar uma densa cortina de fumaça sobre a proposta que enfraquece as delações premiadas – um instrumento fundamental no combate à corrupção, que interessa a muitos parlamentares derrubar.
Projeto que equipara aborto a homicídio tem urgência aprovada na Câmara dos Deputados
Com apoio da oposição e de partidos da base do governo, Lira levou só cinco segundos para aprovar a urgência na tramitação de um projeto que coloca em risco o direito de mulheres e meninas e brasileiras. Cinco segundos que dispensam discutir um assunto tão delicado nas comissões e debater com a sociedade.
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Meninas violentadas são as primeiras vítimas do Congresso em ofensiva contra as mulheres
O presidente sequer informou qual era o número e a ementa do requerimento que estava em votação. Alguns parlamentares se disseram “rendidos” – não sabiam o que havia sido colocado em pauta. Segundo Lira, a aprovação da urgência em votação simbólica foi ajustada depois de um acordo entre líderes, entregando que são poucos os inocentes no show de horrores que ele patrocinou.
Dono de uma generosa fatia do orçamento federal, Arthur Lira transformou-se no “senhor das armas”, a quem parlamentares e o próprio governo pedem bênção. O poderoso presidente da Câmara deixou claro nesta semana que atropelará direitos, se for preciso, para manter seu capital político. As mulheres e meninas são só as primeiras vítimas.