Nos últimos dias, a cidade catarinense Capivari de Baixo virou notícia nacional depois que uma professora passou a ser alvo de críticas e ataques por ter passado a veicular o hino da Venezuela para acolher os alunos venezuelanos. São 34 pequenos imigrantes, como relatou o colega Renato Igor.

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Também na semana passada, o deputado paraense Éder Mauro (PL), que é membro da bancada da bala no Congresso Nacional, chamou de “jumenta comunista” uma professora que usou em uma prova imagem o famoso quadro Cristo Crucificado, do espanhol Diego Velásquez, e pediu que os estudantes fizessem uma reflexão sobre a frase “bandido bom é bandido morto”.

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Jesus, como bem sabe quem já passou os olhos pela Bíblia, foi considerado subversivo em seu tempo, julgado e assassinado. Mas, para o deputado, a professora cometeu uma blasfêmia. E deveria ser levada ao “paredão de fuzilamento”.

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As duas situações ocorreram em âmbitos diferentes, mas estão fatalmente relacionadas. Ao longo dos últimos anos, a escola e os professores viraram vítimas preferenciais da “guerra cultural” promovida por parlamentares de extrema direita. Uma batalha que atropela a liberdade de cátedra, o direito ao contraditório, a visão plural de mundo, e deixa professores sob permanente estado de tensão.

Em setembro do ano passado, um levantamento feito para o Seminário Escola é Lugar de Ciência, organizado pela Escola do Legislativo e pela Comissão de Educação da Alesc, apontou pelo menos 15 ataques a professores promovidos por deputados bolsonaristas ao longo do atual mandato em Santa Catarina.

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Os motivos para a perseguição incluem desde supostas críticas ao governo federal, até abordagens de questões de gênero. Entre as vítimas dos ataques estão professores de escolas públicas e privadas, e também do ensino superior. Ninguém escapa à patrulha ideológica.

Sem escrúpulos ou limites, parlamentares expõem professores ao escárnio público escorados na liberdade que lhes garante a atividade legislativa. Uma deputada estadual de SC chegou a lançar um “canal de denúncias” contra professores, que foi derrubado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em uma decisão que destacou de forma exemplar o direito à liberdade no ambiente acadêmico. O caso é emblemático, mas não surtiu efeito pedagógico. De lá para cá, as violações aos direitos dos professores só fizeram aumentar.

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Um recente levantamento da organização internacional Human Rights Watch, que entrevistou professores em oito estados brasileiros – inclusive em Santa Catarina – revelou que há hesitação e medo de professores para abordar assuntos como gênero e sexualidade em sala de aula. É a autocensura, que ameaça a liberdade de cátedra e o livre pensamento no ambiente educacional – o que atinge também a qualidade de ensino oferecida aos estudantes, que se tornam vítimas colaterais da patrulha. 

Significa que, até agora, os órgãos de controle não foram eficientes em proteger os professores e barrar o avanço da guerra ideológica sobre a educação. Quando as instituições acordarem para o estrago, talvez seja tarde.

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