As histórias de fantasmas e assombrações rondam desde sempre o imaginário popular. Eram mais comuns antigamente, quando faltava iluminação elétrica nas ruas, era preciso caminhar ou cavalgar longas distâncias para ir de uma cidade à outra, e quando as pessoas cultivavam o hábito de conversar. É da memória oral que elas vêm, carregando o relato dos costumes de antigamente.
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No "Dia das Bruxas", te convido a conhecer cinco dessas histórias, que estão vivas no Litoral Norte, na região de Itajaí. Divirta-se (e, por via das dúvidas, acenda a luz esta noite para dormir).
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O baile do diabo

Há algumas décadas, o período de Quaresma – que antecede a Páscoa – era levado muito a sério pelos católicos. Não se faziam festas nem casamentos. Mas um salão de bailes de Itajaí resolveu quebrar a tradição.
Os bailes ocorriam no Rio Pequeno, na zona rural, sob severas críticas dos padres locais. Eis que, numa noite, apareceu um rapaz bonito e desconhecido, que logo tirou as moças para dançar. Rodopiou pelo salão até que uma das jovens olhou para baixo e reparou em seus pés. Ou na falta deles.
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O tal dançarino tinha patas de bode. Dizem que riscou o chão e abriu um buraco, onde entrou e desapareceu para sempre. No salão, ficou apenas o cheiro de enxofre. O jornalista e historiador Magru Floriano conta que o local, até hoje, é conhecido como o Buraco do Bode.
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O lobisomem de Navegantes

Histórias de lobisomem eram comuns em Navegantes décadas atrás. Havia quem jurasse ver a criatura em noites de lua cheia. Mas nenhum relato foi tão levado a sério quanto o do Conselheiro João Gaya. Homem importante e respeito na região.
Ele estava a caminho da localidade de Pedreiras a cavalo, acompanhado do genro e um amigo, quando os três se depararam com um cachorro muito grande. O animal era feroz e assustou os cavalos, que empinaram e rodopiaram. Durante 30 minutos, os três cavaleiros lutaram para não cair no chão, enquanto o cachorro descomunal rosnava e ameaçava atacar.
De repente, um galo cantou e afastou a criatura, que correu para o meio do mato e desapareceu. Ninguém entendeu o que levou o galo a cantar fora de hora. Mas a comunidade passou a ter muito mais cuidado para sair à noite.
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A história está no livro ‘Conversas do Imaginário Popular’, da escritora Vilma Mafra.
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Descansa defunto

No limite entre Porto Belo e Bombinhas, no alto do morro, fica ainda hoje a pedra “descansa defunto”. O nome veio da utilidade: os funerais, antigamente, eram trabalhosos para quem vivia na região. O cemitério ficava em Porto Belo, e os mortos precisavam ser carregados por uma estrada íngreme, a pé, por vários quilômetros. A pedra servia para dar um descanso a quem carregava o caixão no trecho mais difícil do trajeto.
Isso, durante o dia. Porque, à noite, ninguém se atrevia a passar por ali. Dizem os antigos que o local é assombrado, e quem se aproxima da pedra ouve ruídos estranhos, choro de crianças e o piar de corujas.
O medo era tanto, que certa vez dois amigos de Bombinhas que estavam numa festa em Porto Belo estancaram ao chegar nas proximidades da pedra ao ouvir um lamento – “ai, ai, ai”. Voltaram à festa e trouxeram mais gente. Ninguém teve coragem de se aproximar. Até que um deles percebeu que havia uma apresentação de Terno de Reis morro abaixo. O som subia, e causava a sensação de que vinha da pedra.
O mistério foi resolvido. Mas, por via das dúvidas, os mais antigos não se atrevem a passar pelo local depois que o sol se põe. Quem conta é o historiador Dieter Hans Bruno Kohl.
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O anjo de ouro
Dizem que os padres jesuítas, ao serem expulsos do Brasil, enterraram seus tesouros. Um deles ficou na Ilha João da Cunha – a Ilha de Porto Belo: uma estátua de um anjo de ouro, de um metro de altura. Século após século, exploradores buscaram o anjo, sem encontrar.
A alma penada de um padre é quem guarda a estátua. Contam que ele se aproxima ao ver os pescadores puxarem as redes na ilha, à noite. Escolhe um deles, e pergunta se quer ficar rico. Pede que o pescador o siga, sem olhar para trás, e adentra na mata.
Até hoje, dizem, ninguém teve coragem de seguir viagem. Ao ouvir o chamado dos companheiros, os pescadores olham para trás e padre some, deixando o convidado perdido no meio do mato. Com medo, e sem o tesouro.

A mão gelada
Esta não é bem uma história de assombração. Embora as senhoras que passaram pelo susto certamente tenham acreditado que viveram um encontro sobrenatural. O relato está no livro 'De Itajahy a Itajaí, Cem anos de prosa', da Academia Itajaiense de Letras. Foi escrito por Lindinalva Deola.
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Na época, o cemitério do Centro de Itajaí ficava onde hoje está a igreja matriz. As mulheres que iam à missa, na igrejinha da Imaculada Conceição, passavam por ali. E um conhecido ladrão viu no medo que elas sentiam, de supostos fantasmas, uma oportunidade para se dar bem.
O homem se escondia perto do cemitério com um pote de água. A cada vítima em potencial que via se aproximar, mergulhava a mão na água e a deixava gelada. Quando a mulher passava, ele dava um jeito de encostar-lhe rapidamente a mão no pescoço.
Dezenas de bolsas e carteiras eram derrubadas quando as assustadas vítimas corriam. E o ladrão saía ileso. Afinal, quem desconfiaria que ele estava vivo?